sexta-feira, 31 de julho de 2015

Animação da Vida Litúrgica no Brasil - Doc

Animação da Vida Litúrgica no Brasil




ANIMAÇÃO DA VIDA LITÚRGICA NO BRASIL
(ELEMENTOS DE PASTORAL LITÚRGICA)
27ª Assembléia Geral
Itaici-SP, OS a 14 de abril de 1989


INTRODUÇÃO

l. Este texto é conseqüência da pesquisa feita pela Linha 4, Dimensão Litúrgica da CNBB, quando se completaram 20 anos da promulgação da Sacrosanctum Concilium em 1983. O resultado colhido sobre a caminhada da reforma e renovação litúrgicas pós-concíliares, foi devolvido às bases através do livro Estudos da CNBB, n° 42: Liturgia, 20 anos de caminhada pós-conciliar.
2. Tendo a CNBB dedicado esforços especiais às diversas dimensões da vida da Igreja, urge refletir, agora e de modo bem abrangente, sobre a dimensão celebrativa, que tem aspecto profético e transformador e é a alma de todas as outras.
Para unir a dimensão celebrativa à dimensão profética e transformadora, o fundamental é prover de modo positivo e permanente, a formação de todos os agentes de pastoral, começando pelos mais responsáveis pela vida litúrgica nas di­versas igrejas.
3. Não pretendemos aqui apresentar um Manual de liturgia nem um Diretório dos Sacramentos, mas Elementos de Pasto­ral Litúrgica. Desejamos contribuir para promover e animar a Pastoral Litúrgica na formação dos agentes de Pastoral, para dinamizar as celebrações, para a constituição de suas equipes e para impulsionar a adaptação litúrgica conforme os apelos do Espírito na Igreja.
4. Este trabalho contém duas partes:
Na lá parte refletimos sobre a caminhada litúrgica pós­conciliar, a natureza da liturgia, sua linguagem e suas múltiplas expressões, a importância da espiritualidade litúrgica e a urgência, tanto da aculturação e inculturação como da formação para a necessária adaptação e criatividade. Esta parte ter­mina com algumas orientações pastorais sobre a liturgia em geral.
Já na 2á, mais prática, são apresentadas orientações pastorais sobre a Celebração Eucarística.

 

I PARTE


A VIDA LITÚRGICA

I. A CAMINHADA LITÚRGICA PÓS-CONCILIAR E SEUS ATUAIS DESAFIOS

5. Apresentamos inicialmente uma visão geral da caminha­da litúrgica no Brasil a partir do Concílio Vaticano II, real­çando dois aspectos: uma visão de conjunto das três décadas e os desafios atuais.
I. Visão de conjunto das três décadas
6. Quem lembra como era celebrar a Liturgia há 25 anos e pensa como se apresenta hoje, percebe uma transformação imensa, realizada gradativamente. Há, nesse processo, caracte­rísticas significativas em cada uma das três décadas passadas. 1.1 Os anos 60
7. Um grande entusìasmo marcou a acolhida da Sacrosanctum Concilium. O uso do vernáculo modifícou pro­fundamente o estilo das celebrações. No altar, o sacerdote voltado para o povo, pôs a presidência face. a face com o povo, criando novo espaço e nova comunicação na assembléia litúrgica. Aboliu-se de imediato a duplicação que se havia in­troduzido na celebração da Missa, com textos proclamados em latim e repetidos em vernáculo. Os ritos foram simplificados e tornados mais claros para facilitar a compreensão e a parti­cipação do povo. O canto das partes do Comum da Missa,
em vernáculo, e sobretudo a possibilidade de cantar os textos da Missa em ritmo popular, também deram nova vida à cele­bração.
8. Multiplicaram-se os cursos de Litürgia, onde se insistiu na necessidade da participação ativa dos fiéis e do exercício das diversas funções, como o comentarista, os leitores, o ani­mador e os grupos de canto. Aos poucos foram sendo intro­duzidos, também, novos instrumentos musicais.
9. Além disso, forvn-se realizando Encontros Nacionais e Regionais de Liturgia. Surgiram obras nossas e outras traduzi­das. A reflexão e a prática litúrgicas tornaram-se vivas nos vários cursos do ISPAL (Instituto Superior de Pastoral Litúr­gica), que prestaram inestimável serviço à renovação litúrgica no Brasil.
10. Neste período aparecem também algumas dificuldades. A lentidão e a demora da reforma e renovação oficiais ense­jou a alguns interpretar e aplicar o documento conciliar de maneira autônoma e, por vezes, arbitrária. As iniciativas, to­madas nem sempre de acordo com os critérios emanados do Concílio, exageraram, sobretudo, o descaso pelo aspecto jurí­dico do culto que, sendo comunitário, dele também necessita. Por isso, avançaram o sinal de tal modo que não foi fácil re­troceder quando necessário.
11. Por outro lado, a descoberta do sentido e do valor da Liturgia como cume e fonte da vida da Igreja fez. com que se abandonassem com certo desprezo outras formas de culto como os exercícios de piedade e as devoções populares'. Não se conseguiu ainda preencher o vazio deixado pelo seu aban­dono.
1.2. Os anos 70
12. Três principais aspectos caracterizam este período: A introdução dos novos livros litúrgicos, os Documentos pasfo­rais e a abertura da Igreja para a dimensão social de sua vida e, conseqüentemente, de sua Liturgia2.
13. Os livros foram apenas traduzidos e não adaptados. A Liturgia das Horas teve de se contentar com a trado ão da "Oração do Tempo Presente", editada na França. Infelizmen­te os documentos litúrgico-pastorais da CNBB, bem como as Introduções teológico-pastorais aos novos Rituais, apesar de seu grande valor, não tiveaun a esperada influência na cami­nhada de nossa vida litúrgica.
14. A realidade sofrida do povo fez a Igreja crescer na consciência de sua dimensão profética e evangelizadora. De fato, em Medellín (1968) os bispos latino-americanos, aponta­vam os rumos da promoção social. Já em 1974, o Sínodo dos Bispos testemunha que a Igreja toda caminhava nessa direção, esplendidamente exposta na Evangelü Nuntinndi, que a Con­ferência Latino-americana em Puebla buscou aplicar à nossa realidade3.
15. Enquanto as atenções da Igreja se concentravam nos grupos marginalizados, nas grandes massas empobrecidas e oprimidas e desejosas de libertação integral, germinavam as sementes de uma nova expressão litúrgica ligada à vida.
16. Sobretudo nas CEBs, sob a influência crescente da Teologia da Libertação, a nova reflexão sobre a Cristologia e
Eclesiologia na América Latina inova maneiras de celebrar a Fé.
17. Nesse contexto aparecem elementos positivos e negati- ; vos da caminhada litúrgica.
Foi positivo o novo modo de celebrar os sacramentos. A Penitência, por exemplo, se enriqueceu com as celebrações comunitárias, segundo o novo Ritual. E a Unção dos Enfer­mos tomou outras dimensões, mais na linha da Pastoral da Saúde.
18. A "Oração do Tempo Presente" levou o clero, as co­munidades religiosas e não poucos cristãos leigos a redesco­brir o valor e as riquezas da oração comunitária da Igreja.
19. A valorização dos ministérios na assembléia litúrgica estimula o aparecimento de novos ministérios na pastoral. E a mulher consegue lugar de destaque na Liturgia mais part'sci­pada. Enfim, tem início a valorização da religiosidade popu­lar em suas diversas formas e expressões.
20. Há, porém, elementos negativos nessa década. Com a deficiente formação litúrgica nos seminários e a insuficiente reciclagem oferecida ao clero, os padres, em geral, ficaram privados da espiritualidade litúrgica, ao mesmo tempo em que, no culto, infiltrava-se descabido desprezo pelas rubricas indis­pensáveis e novo rubricismo, na execução material dos ritos e no uso servil dos folhetos. Sensível foi nesse período como diminuiu a participação na confissão auricular. O exercício da celebração penitenciai, com absolvição geral, não bem orien­tado, fez diminuir a participação na confissão auricular, pri­vando o povo das riquezas desta forma de penitência sacra­mental.
21. Aqui e ali reduziu-se a celebração a mero meio de mentalização ideológica. E em que pese a benéfica integração da religiosidade do povo, parece, às vezes, que se alimenta a possibilidade de outra Liturgia, a "popular", em oposição à oficial.
1.3. Os anos 80 e a situação atual
22. Três fatos marcam esta década: a pesquisa sobre a si­tuação da vida litúrgica no Brasil (1983), a ampla avaliação das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da CNBB (1987) e o estudo provocado pelo instrumento de trabalho "Por um novo impulso à vida litúrgica" (1988).
23. Deles se depreendem certos dados importantes: junto com um certo cansaço no campo da Liturgia cresce uma bus­ca de soluções em nível mais profundo.
24. Persistem falhas já apontadas, como deficiente forma­ção litúrgica aos agentes em todos os níveis, com uma defa­sagem agravante entre leigos que estudam e um clero pouco interessado.
25. Descobriu-se toda a amplidão de um dado relativamen­te novo: Cerca de 70% das celebrações, no Dia do Senhor, são realizadas por comunidades que vivem e celebram sua fé sem a presidência de um ministro ordenado.
26. Nem todas as deficiências que vêm à tona no culto são falhas da dimensão litúrgica: muitas devem ser atribuídas à falta de evangelização, à catequese incompleta e à ausência de vida comunitária.
27. É promissor o fato de uma pastoral litúrgica mais inte­grada na pastoral orgânica, como se verifica na presença, em cada Regional, de um bispo responsável pela Liturgia, susci­tando equipes animadoras desta pastoral em vários níveis. Abrem-se assim perspectivas para a difícil tarefa de fazer confluir numa Liturgia viva as riquezas da tradição romana, da religiosidade popular, da oração comprometida com a transformação do mundo e a oração de louvor cada vez mais difundida, sobretudo nas grandes cidades nos grupos de oração4.
2. Desafios
28. Na situação atual da vida litúrgica surgem alguns desa­fios mais urgentes:
- Participnção: o Concílio preconiza a participação ativa, consciente e frutuosas. Como promovê-1a sempre mais? Até que ponto os meios atuais, como folhetos, cantos, símbo­los, concorrem ou impedem essa participação?
29. - Criatividade e adaptação: a participação reclama criatividade e adaptação. Como ampliar as oportunidades exis­tentes na Liturgia, para isso?
30. Civilização urbano-industrial: a maioria do nosso povo vive na cidade secularizada e massificada pelos Meios de Comunicação Social. Que símbolos, gestos e sinais serão real­mente significativos dentro deste novo contexto?
31. A Palavra de Deus: Palavra de Deus é sempre efi­caz e transformadora (of. Is 55,10-I1; Hb 4,12).O que falta para que as assembléias litúrgicas levem a maior compromis­so de fé e melhor ligação entre fé, Palavra e vida? ­
32. O Ano Litúrgico: como superar o paralelismo entre as celebrações do Ano Litúrgico e os dias, semanas e meses temáticos (Mês da Bíblia, Dia das Missões, Mês Vocacional)? 33. A Piedade Popular: como redescobrir a'riqueza da re­ligiosidade popular e integrá-1a na Liturgia?
34. A Aculturação e Inculturação: como coneretamente Ievar adiante o processo de aculturação e de inculturação de­sejado pelo Concílio, para que se chegue a uma expressão li­túrgica sempre mais de acordo com a índole do povo brasilei­ro constituído de tantas etnias?
35. Todos estes desafios deixam claro quanto e como é necessário desencadear um processo de formnção litúrgica sistemática e permanente. Formação que se baseia na compre­ensão teológica da Liturgia e faça superar tanto o néo-rubri­cismo quanto a improvisação arbitrária.
II. LITURGIA: CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO DA SALVAÇÃO 1. A Celebração
36. Em todos os tempos e lugares, homens e mulheres de todos os meios e níveis sociais, de todas as culturas e reli­giões, costumam realçar, ao longo da existência, aspectos fun­damentais da vida individual, familiar, social e religiosa.
37. Celebrar é parte integrante da vida humana, que é teci­da de trabalhos e de festas, de horas gastas na construção e espaços destinados a usufruir de seus resultados.
38. A celebração nos leva a descortinar a grandeza de nos­so ser e de nosso destino de imagens de Deus, grandeza que corremos o perigo de esquecer nas lutas pela vida, nas frus­trações da existência. A celebraçã o nos abre espaço para vi­vermos em comunhão que é o anseio profundo de nosso ser social. E completamos com nossa fantasia o que a dura reali­dade cerceia em nossa vocação para a plenitude e para a auto­realização.
39. Sendo um momento em que se evoca o fato passado para revivê-1o intensamente no nosso hoje, a celebração ocu­pa, na Religião, um lugar privilegiado: porque põe homens e mulheres em comunhão entre si e com Deus através de sím­bolos ou sinais. No cristianismo, a celebração consiste na memória do acontecimento fundente do Povo de Deus, isto é, a morte e ressurreição do Senhor, que perpetua na História a salvação que Cristo veio trazer a todos.
40. Em nossas celebrações religiosas há muitos objetos, gestos e atitudes especiais de pessoas: altar, cruz, livros, lu­zes, toalhas, palavras, mãos postas, mãos estendidas, sinal da cruz, genuflexão, procissões... Eles entram na Liturgia como símbolos ou sinais significativos.
41. Símbolos chamamos os objetos ou gestos que contêm e expressam, de forma analógica, a realidade evocada, que en­tão aparece de outra maneira. Lavar as mãos na missa, por exemplo, é hoje, símbolo do esforço de purificação interior. Mostra uma pureza que deve existir, aqui e agora no interior de quem participa de tal ge.sto. Todos os sinais empregados na liturgia são simbólicos.
42. A celebração litúrgica, estruturada em símbolos e sinais, corresponde perfeitamente à psicologia do homem e da mu­lher, sobretudo dos mais simples, que preferem manifestar seus sentimentos por atitudes, gestos, objetos: uma visita, um abra­ço, um presente.
43. De modo especial, nós latino-americanos, preferimos reforçar assim a exuberância de nossos sentimentos. Por essa razão, nossa Liturgia deve abrir espaços para as expressões de nosso povo. Assim nossas celebrações conseguem a participa­ção de todas as pessoas e da pessoa toda, envolvendo tam­bém seus corpos e a maneira característica de alimentar e exprimir seus sentimentos.
2. Celebração do mistério da salvação r
44. O projeto de comunhão de Deus c_onosco, que chama­mos de o_bra dá sglvaçãó, foi prenunciado pelo próprio Deus no Antigo Testamento e realizado em Çristo. Hoje a Liturgia o celebra, isto é, o rememora e o torna presente na Igreja.
45. De fato, Israel foi o povo convocado pelo Senhor em assembléia para o culto do "Deus único dos pais", que se re­velou como Senhor: um Deus para nós, e portanto, vivo e atuante na História. Marcou profundamente Israel a libertação exaltada no Êxodo, que junto com a criação, a eleição e a ali­ança são os motivós do culto do Povo ao Senhor.
46. Libertando Israel da escravidão para ser seu povo, ou seja, povo sacerdotal, real e profético, o Senhor enseja aos profetas a releitura destes acontecimentos como encaminha­mento da humanidade para a nova Aliança: nesta aliança nova, o culto crescerá em intensidade, em compromisso e justiça com os irmãos e abertura para a universalidade, até que um dia Jesus o proclame como adoração em espírito e verdade (of. Jo 4,23).
47. Em Jesus Cristo, o projeto de Deus se realiza plena­mente, pais nele, se unem o divino e o humano. Por isso, é no Filho que nos tornamos filhos. Sua humanidade é instru­mento de nossa salvação'. Jesus juntou às palavras ações e atitudes significativas que mostram que o Reino anunciado por Ele já se tomou presente. Seu agir em favor dos marginaliza­dos do seu tempo é expressão do plano de Deus: conduzir, a partir dos pobres, todos os homens e mulheres à comunhão com o Pal.
48. O mistério pascal de Cristo é o centro da História da salvação e por isso o encontramos na Liturgia como seu obje­to e conteúdo principal. Esse mistério envolve toda a vida de Cristo e a vida de todos os cristãos. "Por sua obediência per­feita na cruz e pela glória da sua ressurreição, o Cordeiro de
Deus tirou o pecado do mundo e abriu-nos o caminho da li­bertação definitiva. Por nosso serviço e nosso amor, mas tam­bém pelo oferecimento de nossas provações e sofrimentos, nós participamos do único sacrifício redentor de Cristo, comple­tando em nós o que falta às tribulações de Cristo pelo Seul corpo que é a Igreja"2.
49. Assim se entende como e por que sem a ação do Espí­rito Santo não pode haver Liturgia. A Páscoa de Cristo que celebramos é fruto do Espírito Santo que impulsionou o Fi­lho de Deus a realizar a vontade do Pai até as últimas conse­qücncias (of. Hb 9,14). E quem envolve no mistério pascal a vida, as lutas e as esperanças de todas as-pessoas é o mesmo Espírito, que na Liturgia é invocado para  sánlllicação dopão e do v_inho e a união dos fiéis. O Espírito continua exortan­do-nos a que ofereçamos nossa vida e nosso compromisso de servir aos irmãos na construção do Reino, como hóstias vi­vas, santas e agradáveis a Dcus. Aliás, é este o nosso culto espiritual (of. Rm 12,1).
50. Nesta perspectiva, acolhemos com alegria o atual an­seio de, nas ações litúrgicas, celebrar os acontecimentos da vida inseridos no Mistério Pascal de Cristo. De fato, na Litur­gia sempre se celebra a totalidade do Mist_é_rio de Cristo e da Igreja, com todas as suas dimensões. A vida se manifesta n_ão penas_nos mom_ cotos fortes do culto, mas também no esfor­ço por crescente comunhão participativa; na consciência de sua vocação missionária; no empenho pela acolhida e animarão
catequétic_ a da Palavra; no espírito de amplo diálogo_ecumêni­_co e na séria, corajosa e proféticá Adão transformadora do I mundo.
51. Quando os Bispos explicitaram estas seis dimensões na Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil, tive­ram em mente o fato de que a Liturgia é o cume e a fonte de toda a ação pastoral3. Estas dimensões não existem isola­damente e, ao mesmo tempo, tem cada qual sua identidade: Liturgia não se confunde com Catequese, nem com ação transformadora do mundo, embora deva estar presente e pene­trar todas as ações da pastoral.
52. Mas em cada um_a _dessas dimensões todas as ações verdadeiramente pasto_rais têm um_ cárát_er pascal, pois são vivências da P_áscoa da Irejá, à imagem e pela força da Pás­coa de Cristo. E por isso a Liturgia as celebra.
III. O POVO DE DEUS CELEBRA A SALVAÇÃO
53. As maravilhas operadas por Deus no Êxodo visavam reunir o povo no Sinai para constituí-Io povo sacerdotal.
Jesus Cr_isto, o sumo sacerdote da fé que professamos (of. Hb 3,1) também reúne seu povo, a quem, pelo Batismo, _ deu pa_rOcyar do seu sacerdócio. Assim o novo povo de Deus, que está no mundo vivenciando as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias com todos os homens e mulheres de hoje, sobretudo com os pobres, é convocado para assem­bléias, a fim de e_xercer de modo eminente o seu sacèrdócio com Cristo, por Cristo e em Cristo.
54. O Povo de Deus, sobretudo na Assembléia litúrgica se expressa como um povo sacerdotal e organizado, no qual a diversidade de ministérios e serviços concorrem para o enri­quecimento de todos. Sua unidade e harmonia é um serviço do ministério da presidência. Convocada por Dcus, a assem­bléia litúrgica, expressão sacramental da Igreja, unida a Jesus Cristo, é o sujeito da celebração.
55. O Povo de Deus convocado para o culto é o mesmo povo que trabalha, faz festa, sofre, espera e luta na História. Por isso, as nossas assembléias são diversificadas. É mister abrir espaços de esperança à manifestação das ricas expres­sões religiosas das comunidades, dos grupos étnicos e das grandes massas empobrecidas. Porque não é possível celebrar
um ato litúrgico alheio ao contexto dá vida real do povo, em sua dimensão pascal.
56. É essa diversificada assembléia, que é servida por mi­nistér_ios e serviços multiformes,'que o Espírito suscita em sua Igreja. Entre os ministérios distinguem-se os ordenados, do bispo, do presbítero e do diácono, participàção especíFca no múnus dos ápóstolos, múnus este, instituído por Jesus Cristo. Hoje temos os m_in_istérios instituídos do, acólito e do leitor; e chamamos "dc credenciados" os serviços que o cristão lei­go exerce em virtude de seu batismo sob a coordenação de seu bispo: são assim, o ministério extraordinário do Balismo, da ComunhãEucarística e da assistência ao Matrimônio. Há também determinados seíviós litúrgicos que, de modo stá­vel, desempenham leitores, comentaristas, recepcionistas, com­ponentes do coral e, sobretudo, as Equipes de Pastoral Litúr­gica. Esta diversidade de ministérios fortalece a Igreja como comunidade e realça a dimensão comunitária da ação litúrgica. 57. Nessa exuberante manifestação do Espírito, que são os ministérios, há que se destacar alguns aspectos mais significa­tivos.
58. O serviço da presidência, como sinal visível de Cristo­Cabeça, implica para bispos, presbíteros e diáconos uma reno­vada postura quando celebram com seu povo.
59. O diácono, como o presbítero e o bispo, não só presi­dem a assembléia, mas a preparam, no sentido de que a eles incumbe a responsabilidade de construir a comunidade, condi­ção importante para a celebração litúrgica.
60. "Onde a necessidade da Ígreja o aconselhar, podem também os leigos, na falta de ministros, mesmo não sendo leitores ou acólitos, suprir alguns de seus ofícios, a saber,
exercer o ministério da palavra, presidir às orações litúrgicas, '.administran o Batismo e distribuir a Sagrada Comunhão, de acordo com as prescrições dó direito"1.
61. Hoje, para a Liturgia, o leitor é instituído para servir à Palavra, proclamando-a no culto e fazendo-a mais conhecida na Çatequese; o acólito, no seu serviço prestado ao altar e à distribuição da Eucarisfia, acrescenta a preocupação com a caridade, pois, sem amor ao próximo não tem sentido parti­Ihar o Pão eucarístico2.
62. Além dos acólitos e leitores, inúmeros homens e mu­lheres assumem na celebração serviços espon_tâneos, que a,N tomam mais participada. A E_ quipe de Pastoral Litúrgica, res- ­ponsável pela animação da vida e ação litúrgicas, deve dar especial atenção a estas Equipes de Celebraçz'o, doe _ajudam
o presidente e.a assembléia nas celebrações litúrgicas. ,
63. Assim, a assembléia litúrgica, servida por um conjunto de ministros, manifesta e realiza a "Igreja toda ministerial"3 e a.diaconia que é a sua vocação. A presença e puticipação dos fiéis através de gestos, palavras, aclamações e posturas corpo­rais tornam visível esplendidamente a Igreja em ação4.
IV AS DIMENSÕES DA LITURGIA
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64. A Liturgia, como eXercício do sacerdócio de Jesus Cristo, tem duas dimensões fundamentais: aglorificação de Deus e a santificarão da humanidadel. Trata-se de duas di­mensões e não de dois tempos ou duas atividades estanquesz. A Comunidade que celebra tem o compromisso de evangeli­zar o mundo3.
Neste fluxo e refluxo de realidade nós déstacamos al­guns aspectos relevantes.
1. Memorial
65. A ação litúrgica é mémorial: atualiza os fatos passa­dos que, em Cristo e por Cristo, são sacramentos de salva­ção. Além disso, tem a força de tomar presentes as realida­des futuras, levando os que a celebram a se inserirem no pro­jeto de Deus. Como torrente de graças transbordando na his­tória, o memorial celebra também em Cristo, os acontecimen­tos da vida do Povo de Deus. Os milhares de homens e mu­lheres individual ou comunitariamente, sob a ação do Espíri­to Santo, encheram de vida, sentido e luz a sua história, revi­vendo nela o mistério pascal de Jesus Cristo.
4Gvv` no y
2. Aglorificação'daj Trindade
66. Porqye a Trinda_de é fonte fim da Liturgia, o louvor, 'a glorificação do Senhor é uma constante do culto cristão. Não nos esquecemos, porém, de que a glória de Deus
nas alturas realiza afaz na terra para as pessoas que Ele ama. A transforTnação do homem e da mulher e do seu mundo é o meio seguro de glorificar a Deus que os quer à sua imagem e semelhança e participando do dom da vida com abundância (of. Jo 10,10; Is 44,23).
3. Ação de graças.
67. Nesta perspectiva, torna-se mais compreensível o hino que há séculos ressoa nas igrejas: "Nós vos damos graças por vossa imensa glória". A ação de graças é importante porque; além do mais, sublinha agratuidade do dom de Deus que ce­lebram os. . , ; ,  .~,-( a. .a .e. "-.' i,`-c- A.  . . a,.- ~ ~ .   68. Dar graças é exigência do coração que se vê assim beneficiado. Insistir, nas celebrações, em considerar demasia­damente a presença do pecado deturpa a realidade e esvazia
a Liturgia, que nos convoca a louvar, bendizer, dar graças esperar contra toda eserá. .
4. Súplica e intercessão
69. Toda oração litúrgica é feita na "unidade do Espírito Santo". Precisamos dele para que nossa oração não seja um programa que impomos a Deus em nosso favor, mas reconhe­cimento do poder e bondade sem limites do Senhor que, fa­
tendo vir a nós o seu Reino, nos livra de todo o mal. Pedi­mos por nós e pelo mundo.
70. A süplica é sobretudo reconhecimento da grandeza de Deus, que anos socorre, e não apenas consciência de nossa incapacidade. Por isso, pedimos ao Espírito que nos ensine o que devemos pedir (of. Rm 8,26). '
S. Pedido de perdão
71. A nossa condição de humanidade pecadora põe em realce a misericórdia de Deus. Pedir perdão é oração humil­de, sincera e alegre, no encontro com a Misericórdia infinita, que perdoa os muitos pecados a quem muito ama (of. Lc 7;47). É Cristo vítima, que morre e ressuscita e é celebrado na Liturgia, quem dá sentido também aos nossos sofrimentos; transformados em atitudes de oração penitenciai, completam em nós, seus membros, a sua Paixão dolorosa (of. CI 1,24). , 6. Compromisso
72. Quando se tem consciência de que pecar é condição da humanidade toda, a unidade de todos os homens e mulheres é obra do Espírito Santo, e a glória de Deus é a realização de seu povo tarpbém na História, é fácil compreender que a Liturgia, além da conversão pessoal, comporta um compro­misso social.
73. O Reino de Deus que se realiza onde Deus reina por sua graça, também se explicita no pão de cada dia, na convi­vência fraternal e nos anseios de libertação de todo o mal. A Liturgia não nos convida apenas para ouvirmos falar do Rei­no, mas para nos impelir e animar a construí-1o.
7. Escatologia
74. Entrétanto, sabemos que a construção da sociedade jus­ta e fraterna é esforço para implantar um sinal do Reino defi­nitivo, no qual já se encontram os nossos' santos. Se fazemos memória deles, prelibando suas alegrias, é porque toda a Li­turgia é antegozo da realidade que aguardamos, vivendo a es­perança: na dimensão escatológica de nossa Litutgia4, celebra­mos, de fato, a ação salvadora e perene de Deus, que come­ça na criação, manifesta-se na História e se coroa na Pátria definitiva.
V ELEMENTOS E FORMAS DO CULTO CRISTÃO
l. Elementos da celebração
75. No projeto do Senhor de ser o nosso Deus e fazer de nós o seu Povo (of. Lv 26,12), a comunicação é fundamental e a linguagem é de capital importância. A Liturgia exprime e constrói, sempre mais, a comunhão que o Pai decidiu levar avante pela missão do Verbo, que se fez come para habitar, como um dos nossos, entre nós e pelo envio do Espírito San­to. Por isso, a Liturgia faz sua a linguagem humana e comu­nica e celebra os mistérios com os mesmos elementos com que as pessoas celebram a sua vida.
76. O primeiro elemento litúrgico são as pessoas. A pre­sença de homens e mulheres no recinto em que se encontram, felizes por se reconhecerem como convocados por Deus, faz de nossas assembléias reuniões diferentes das que concentram pessoas em teatros ou estádios, em reuniões sindicais, ou en­contros partidários, como também diante da TV. Elas se reú­nem na fé, em nome de Cristo, conduzidas pela ação miste­riosa do Espírito que as transforma em sinais do Reino do Pai. Daí emerge o sentido da assembléia litúrgica.
77. A seguir, a Palavra de Deus, comunicação do próprio Deus, que nos convoca para celebrar a Aliança, ilumina nos­so caminho e alimenta nossa vida. Primeiro porque Deus mesmo revelou o seu plano através de acontecimentos, cujo sentido foi captado e trànsmitido, sob inspiração do próprio
Deus, através de palvras humanas, que hoje constituem o tex­to sagrado, objeto e alimento de nossas celebrações.
78. A'celebração da Palavra de Deus na Liturgia é presen­ça do mistério de Cristo agindo aqui e agora, com sua divina proposta, que aguarda nossa resposta concreta e generosa.
79. A Pastoral litúrgica esmera-se em pôr em relevo o sen­tido e o valor da Palavra na celebração, quandoé proclama­da na assembléia, atualizada pela homilia e se faz resposta orante nos salmos e preces'.
80. Além da Palavra divina, o Povo de Déus escolhe cui­dadosamente palavras que exprimem sua fé, sua esperança, seus sentimentos e suas necessidades numa primorosa e vene­rável coleção de orações e hinosz.
81. Ajudam muito a comunicação humana e, portanto, fa­zem parte da linguagem litúrgica, muitos elementos visuais, acústicos e os que falam por seu movimento.
Enriquecem visualménte a celebração não só a arte dos arquitetos, pintores, escultores e artistas populares, mas tam­bém o bom gosto nas vestes litúrgicas, a tradição das córes, a presença das luzes e a preocupação com a beleza até nos menores objetos de que o culto se utiliza.
82. Auxiliam nossa prece, reforçando a palavra que ouvi­mos, a linguagem universal da música, cantada ou instrumen­tal, que os momentos de silêncio ressaltam e ao mesmo tem­po abrem espaço par_a outro tipo de oração. E até mesmo a simples modulação da voz pode expressar nossa alegria, nos­sa confiança ou nossa dor.
83. Nosso corpo, sensível e dócil ao movimento, é uma fonte inesgotável de expressão. Por isso, na liturgia têm im­portância os gestos, as posturas, as caminhadas e a dança. 84. A força dos símbolos e sinais, sobretudo quando retira­dos da vida e cultura do povo, completam a grande varieda­de de elementos da nossa Liturgia.
2. Formas de celebração
85. A,. salvação que o Pau nos oferece chega até nós por Cristo, na Igreja. Temos ali a graça de vivenciar, em momen­tos diversos, a ínüma comunhão com Déus e com os irmãos. Esta é a nossa vocação. Chamamos formas de celebração os diversos momentos rituais que nos permitem experimentar esta comunhão.
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2.1. Os Sacramentos `
86. Os momentos mais intensos dessa comunhão são os sacramentos. Igreja cresce const<'ntemente com novos mem­bros qué se convertem ao caminho de Jesus e aderem à Ali­ança. Ela a celebra no Batismo, fazendo°-os passar pela água numa nova páscoa e ungindo-os na Crisma com o perfume do Espirito para que, conformados e fiéis a Cristo, vivam sua vocação e missão na construção do Reino.
87. A Igreja é constantemente recriada pela Eucaristia. Nela faz o memorial da morte e ressurreição de Cristo, o sacrifício da nova Aliança, no pão partido e repartido entre a comuni­dade, no vinho vertido no cálice. Aqui é o Espírito que trans­forma a matéria; comprometida com ele, a Igreja leva cada
um a partilhar o que tem, dando um novo sentido sacralizado ao universo material e aos acontecimentos de nossa vida.
88. Jesus Cristo não só exortou os homens e as mulheres à penitência, a fim de que deixassem os pecados e de todo coração se convertessem ao Senhor, mas também acolheu os pecadores, reconciliando-os com o Pai e com os irmãos. Se­guindo os seus passos, a Igreja não cessa de convidar seus membros à conversão e restauração da vida e a manifestarem a vitória de Cristo sobre o pecado pela celebração da Penitên­cia, esmerando-se ém valorizar a prática da conCissão.
89. Através da Unção dos Enfermos, a comunidade ecle­sial concede o alívio nos sofrimentos e liberta dos pecados e Cristo une o doente ao mistério de sua Paixão e pela graça do Espírito Santo, o associa à sua ação redentora. E dá ainda ao doente, que vê sua existência desestruturada pela enfermi­dade, a força suficiente para rever seu projeto de vida cristã. 90. A Igreja escolhe alguns homens no meio do povo, os quais marcados pelo sacramento da Ordem, agem "m persona Christi" e, assim, unidos ao Cristo Sacerdote, se tornam mi­nistros da unidade e servidores do povo.
91. Através do Matrimônio cristão a Igreja celebra a Ali­ança de amor de Deus com os homens e mulheres e o amor, de Cristo e da Igreja. Os esposos, mergulhados, desta forma, neste profundo mistério de amor, proclamam, pela vida afora, a fidelidade de Deus à humanidade.
92. Vemos aqui como pelos sacramentos a Liturgia leva a fé e a celebração da fé a se inserirem nas situações concretas da vida3.
'  d, .; G: 2.2. Celebrações na ausência do presbítero
93., No Brasil a maioria do povo fiel, em milhares de co­munidades, que não contam ordinariamente com o presbítero, através da Palavra celebram o mistério de Cristo em suas vi­das. E sendo a Palavra de per si, depois dos sacramentos, o modo mais importante de celebrar, temos mais de um motivo para refletir sobre ésta forma de celebração, como o vem fa­zendo, aliás, a própria Sé Apostólica em nível universal°.
94. A partir do dia de Pentecostes a Igreja não mais dei­xou de reunir-se em assembléia, no Dia do Senhor, para cele­brar o mistério pascal dc Jesus pela proclamação da Palavra e a Fração do PãoS. A Celebração eucarística, portanto, é a celebração mais plena e mais apropriada do Dia do Senhor. 95. O surgimento rápido de inúmeras comunidades eclesiais, ultrapassando a capacidade de atendimento dos presbíteros, leva o Povo de Deus a reencontrar no tesouro da tradição li­túrgica da Igreja a celebração da Palavra para alimento de sua fé, de sua comunhão e de seu compromissob.
96. Nesta celebração da Palavra, o Cristo se faz verdadei­ramente presente, pois é ele mesmo que fala quando se lêem, na Igreja, as Sagradas Escrituras. Além de sua presença na Eucaristia, eventualmente distribuída, está também, na assem­bléia, pois prometeu estar entre os seus que se reúnem em seu nome (of. Ml 18,20).
97. É nesta celebração que muitas de nossas comunidades encontram o alimento de sua vida cristã. Formadas por gente simples, em luta·pela sobrevivência e mais abertas à solidarie­dade, estas comunidades espontaneamente unem a Escritura à vida e, criativamente, integram preciosos eletnentos da religio­sidade popular. .
98. Contudo, não confundimos nunca estas celebrações com a Eucaristiag. Missa é Missa. Celebração da Palavra, mesmo com a distribuição da Comunhão, não deve levar o povo a pensar que se trata do Sacrifício da Missa. É errado por exemplo, apresentar as oferendas, proclamar a Oração eucarís­tica, rezar o Cordeiro de Deus e dar a bênção própria dos ministros ordenados9.
99. A celebração da Palavra tem seus próprios valores nos vários elementos que a integram:
- reunião dos fiéis para manifestar a Igrejalo. , - proclamação e atualização da Palavra que a faz transformadora;
- preces, hinos, cantos de louvor e agradecimento, que são a resposta orante dos fiéis;
- saudação da paz, ofertas de bens e, quando'houver, Comunhão eucarística que, a um tempo, expressam a solida­riedade eclesial e o compromisso de transformar o mundo. 100. . A coordenação desses elementos exige um serviço de presidência. Os diáconos são os primeiros encarregados de dirigir esta celebraçãoll. Entretanto, quando não houver diáco­
no ou ministro instituído, todo o cristão leigo, homem e mu­lher, por força de seu Batismo e Confirmação, assume legiti­mamente este serviçol2. Recomenda-se que os encarregados desta atividade sejam apresentados à comunidade em celebra­ção especial para tomar mais evidente a comunhão eclesial. Seja feita esta designação por um período determinado de tempo.
101. Assim presidida, a celebração se desenvolve num ritmo, que exprime bem o diálogo entre Deus e a assembléia:- Os Ritos iniciais expressam o Senhor, que chama e
reúne seu povo, e o povo que alegremente vem e se apresen­ta. Breve monição lembrará à comunidade sua união com a Igreja local, onde os irmãos celebram e lutam na construção do Reino'3.
- Na Liturgia da Palavra, proclamada e explicada, o Senhor fala da salvação ao seu povo, que responde professan­do a fé, pedindo perdão, suplicando, louvando e bendizendo.
- A ação de graças é um ponto alto, porque a gran­de resposta ao Deus que se faz Salvador é o homem e a mu­lher agradecendo. Por ela se louva e se bendiz a Deus por seu grande amor. Um hino, um canto, uma oração titânica podem exprimi-1a após a Oração dos fiéis, da Comunhão ou no final da celebração'4.
- Pela Comunhão eucarística, a assembléia exprime e realiza aí íntima união com Cristo e com a Igreja.
- Pelos Ritos de conclusão os fiéis, que tomaram consciência de quesão enviados, assumem o compromisso da sua missão a serviço do Reino na vida concreta.
102. Finalmente, não podemos esquecer que a celebração da Palavra tem uma ampla dimensão educativa, levando o povo à sadia criatividade, à valorização dos ministérios, ao compro­misso com o Reino e ao amor à Eucaristia, como expressão da plena comunhão eclesial.
. 2.3. Sacramentais
103. Na vida celebrativa do nosso povo têm eclevo também as bênçãos;' as exéquias, as orações comunitárias. A Santa Igreja mostra seu apreço aos lugares e pessoas consagradas através de ritos solenes, por exemplo, para a dedicação das igrejas e a profissão religiosa.
104. As bênçãos_. A Igreja, que louva e bendiz a Deus, também abençoa e consagra as pessoas c tudo que concorre para sua vida. Benzer, para a Igreja, significa afastar o véu que encobre o bem que já na criação o Senhor depositou nas coisas e o Redentor deseja e oferece aos homens e mulheres que ele salva.
105. É nos acontecimentos e situações de sua vida que o povo deseja e procura os vestígios da bondade de Deus. Abençoando, sempre a partir da proclamação da Palavra, a Liturgia dá resposta plena á estes anseios humanos's.
106. As bênçãos, além de sua dimensão evangelizadora, abrem perspectivas para a pastoral, que busca a mútua fecun­dação entre Liturgia e religiosidade popular.
107. Exéquias. A dura realidade da morEe com seu doloro­so cortejo de sofrimentos e separações de entes queridos toca
no mais profundo anseio de toda a humanidade: anseio de vida e convívio perene e feliz.
Nossa fé no mistério pascal, no sentido da morte e res­surreição de Cristo, nos conduz à Pastora_1 da_esperança, cele­brada na Liturgia com grande respeito pelos sentimentos e costumes do povo nas diversas regiões. "Na ausência do mi­nistro ordenado, os ministros de culto, especialmente, nas ca­pelas rurais, presidam as exéquias, com ritual próprio, ressal­tando a liturgia dá Palavra e as orações adequadas à ocasião. 2.4Oração comunitária
108. A nossa oração é participação no diálogo de Cristo com o Pai e da oração que lhe dirigiu durante sua vida terre­na em nome e pela salvação de todo o gênero humano'6. É essa piedade de Cristo que continua na Igreja de modo emi­nente na Liturgia das Horas.
109. Santificando o dia, ela santifica os homens e as mu­lheres em toçias as suas atividades e louva aDeus em tódos os momentos: porque é preciso orar sempre sem nunca inter­romper esse diálogo (of. Lc 18,1; 1Ts 5,17). Todos portanto, são convidados a participar da Liturgia das Horas, fazendo seus os sentimentos e desejos da Igreja".
110. Quando circunstâncias diversas privaram o povo das riquezas desta oração, os fiéis se refugiaram na chamada pie= dada popular, e, conservando as reminiscências do culto de louvor, chegaram, a seu modo, a expressar sua.fé, celebrar sua
vidá e cultuar o seu Deus. Haja visto Rosário de Nossa Senhora, Angelus, celebrando a Encarnação nas horas mar­cantes do dia e Via sacraexplicitando os passos da Pai­xão. E as romarias rumo aos santuários traduzem de modo concreto a nossa caminhada, seguindo o Cristo peregrino e festejam a universalidade da Igreja aberta para todos.
Não será demais, por isso mesmo, recordar que os san­tuários devem dar à Liturgia uma espccialíssima atenção.
VI. A IGREJA CELEBRA NO TEMPO
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111. O Domingo, como um dia especial, Natal e Páscoa, como tempo de festa, são realidades na vida de todas as pes­soas, sejam ou não membros da comunidade eclesiah.
112. Nossa fé, porém, vê mais em tudo isso. Tem consci­ência da plenitude da salvação realizada por Cristo, e quem tudo foi criado, razão por que é sua missão recapitular em si todas as coisas (of. Cl 1,16). Seguindo a sucessão de dias e noites e o movimento regular do sol, que põe ritmo evidente no nosso universo, o cristão se compraz cm celebrar t<imbcm ritmadamente o mistério de Cristo. O Senhor santificou todo o tempo e, por isso, todos os dias são santificados. Na vida concreta, porém, para recordarmos esta verdade, chamamos de "santos" certos dias e certos tempos em que abrimos mais espaço para celebrar o mistério de Cristo ou algum aspecto da salvação.
1. O Domingo
113. O cristão, à semelhança dos judeus, consagrou um dia por semana à celebração de seus mistérios. A escolha recaía sobre o primeira dia da semana, dia da Ressurreição do Se­_nhor, dia também que recorda a criaçã_o_e_m Çrislo, o recapitu­lador da História. Por isso, além de ser o Dia do Senhor, o Domingo é também o dia do Homem que busca viveyber­dade2.
114. Em nenhum momento, homens e mulheres seguidores de Cristo se sentem melhor como filhos de Deus do que na celebração da Eucaristia. O memorial da morte e ressurreição de Cristo, que nos faz filhos no Filho (of. Jo 1,12; Gl 3,26), nos une de tal modo a Jesus que em Cristo, com Cristo e por Cristo, na unidade do Espírito Santo, damos ao Pai toda a honra e toda a glória. Por isso, a Eucaristia é a celebração primordial do Domingo. Celebração eucarística a que estão ligadas de certo modo as inúmeras celebrações da Palavra nas comunidades que não têm padre.
I15. Mas não é só a Missa que celebra o Dia do Senhor. As primitivas celebrações do Domingo, centradas na Fração do Pão se realizavam dentro da reunião alegre dos que juntos comiam com simplicidade de coração (of. At 2,26). Cessar o trabalho neste dia não é só para descansar, que tem também o seu valor, mas para oferecer oportunidade de encontro com os irmãos. São celebrações do Domingo, acolhendo o Ressus­citado, que deseja nossa união fraterna (of. Jo 17,21), as ho­ras de convívio alegre e gratificante com os seus, as obras de misericórdia com os que sofrem e a partilha da Palavra em momentos de aprofundamento e reflexão.
116. O Senhor, dizendo aos homens e mulheres "dominai a terra" (of. Gn 1,28), nos fez senhores deste mundo. Este senhorio restaurado por Cristo deve ser intensa e consciente­mente celebrado. Urge ver no descanso não apenas um espa­ço para o ócio, mas a proclamação cristã da libertação dos filhos de Deus de todo o mal, que o pecado injetou no traba­lho através do suor, da ganância, da competição e exploração. E ver áinda no passeio, na recreação e no esporte o exercício daquela realeza com que Deus coroou seus filhos e suas fi­lhas, capacitando-os para dominar a nattueza, brincar com ela e usufruir de suas riquezas inesgotáveis.
117. Sentimos fundo no coração deturpação do Domin­go, imposta pelas injustiças e pelo consumismo de nossa épo­ca dominada pelo espírito secularista.
Alguns são obrigados a trabalhar no Domingo por im­posição de suas profissões. caridade com que exercem seus deveres é seu sacrifício espiritual, já que estão impedidos de celebrar plenamente o Dia do Senhor. Inaceitável, outrossim, é a sociedade que obriga multidões à luta pela sobrevivência por causa do trabalho mal remunerado, que desfigura o Do­mingo feito dia de horas-extras. própria realidade urbana dificulta, muitas vezes, a vivência cristã do Dia do Senhor. 118. Lamentamos também o consumismo secularista, que leva centenas de pessoas ao mero lazer, viagens e programas, que mais parecem criados para distrair ou dirigir as atenções em direção oposta ao culto e à religião.
119. Corremos também o risco de esvaziar o sentido do Domingo com o excesso e superposição de comemorações, que pretendemos realçar neste dia, sem notar que não sobra espa­ço para celebrar o mistério pascal.
Núcleo de todo o Ano Litúrgico e ponto de convergên­cia de todos os dias da semana, o Domingo espera, urgente­mente, mais atenção de nossa pastoral.
Nas paróquias com muitas comunidades, programe-se a celebração das Missas dominicais de modo a possibilitar, por tomo, o Santo Sacrifício em todas elas. Para isso é necessá­rio reeducar as comunidades centrais no sentido de se conten­tarem com a celebração da Palavra, quando a Missa é cele­brada nas outras.
120. A Semana tem tonalidade pascal particular, quando celebrada à luz do Domingo. Elementos do mistério de Cris­
to e da Igreja são recprdados n sucessão de seus dias, sendo que a consagração da Sábado  M'ia é muito cara à pieda­de popular. Se a Litrgia das Horas faz deste último dia, o dia da feliz consumarão, com razão celebramos aquela que, assunta ao céu em' cpo e allma, já se encontra na glória. Associada ao Cristo, la é também protótipo da pessoa huma­na glorificada.
2. Os Ciclos do Ano ,cirúrgico
121. A Páscoa e a;s alegrias de celebrá-1a são grandes de­mais para caberem nps limites de um Domingo. Desde cedo a Igreja passou a con,sagrar a isso o ano todo, dividindo-a em ciclos: um conjunto d domingcs para celebrar o Salvador, que se manifesta ao muhdo; e ouuro grupo dedicado à Paixão­Morte e Ressurreição de Cristo. , que nos envia o Espírito San­to. E entremeando estes dois ciclos, numa longa série de domingos, revive-se a que Jesws fez e disse como nosso Re­dentor.
122. Tríduo Pascul, Assim c=omo o Domingo é o ponto alto da semana, o Trídp pascal da Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição do Segor é o áspice luminoso de todo o Ano lltUIglCO3.
123. O Tríduo pascal começa na Quinta-Feira, à hora da Ceia do Senhor, duahdo Cristo antecipa sacramentalmente sua Morte e Ressurreiçp. Após ,n dia de penitência, que é a Sexta-feira Santa e Vsp dia de : silêncio, o Sábado, o povo cris­' Cf. SC 100; Nor
haas Gerais ssobre o Ano Lilúrgico e o Calendário, 1 R
tão concentra suas atenções na Vigília pascal, mãe de todas as viglias4, porque celebra a Ressurreição de Jesus e a dos cristãos com ele.
124. Tempo pascal. Os cinquenta dias entre o Domingo da Ressurreição do Senhor e o Domingo de Pentecostes sejam celebrados como um grande domingo, um só dia de festas. São celebrações que convérgem para o Cristo vitorioso e entre ríós, enquanto Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo, lembra o coroamento e a culminância da Páscoa do Senhor.
125. Páscoa é festa e novo ritmo de vida. O Espírito que o Senhor nos dá nos impulsiona continuamente a viver a nossa páscoa, que são as múltiplas passagens da morte para a vida. 126. Quaresma. A Igreja preparou os catecümenos para a iniciação cristã nos quarenta dias que precedem a Páscoa. Hoje a Quaresma convoca-nos para a oração, o jejum e a caridade expressa pela esmola. Assím manifestamos a nossa abertura para a Palavra de Deus, que nos leva à conversão de nossos pecados, para vivermos a fraternidade em que fomos inseri­dos pelo Batismo.
127. A Campanha da Fraternidade, com que a Igreja, no Brasil, desencadéia um grande movimento de evangelização, recebe da Liturgia o incentivo para seu espírito de caridade e o desejo de conversão com que anima sua pregação nos Meios de Cómunicação Sócial, nas aulas de religião e grupos de es­tudo e oração.
A Campanha da Fratemidade, por outro lado, cada ano pede à Liturgia, um gesto concreto de conversão para todas as comunidades do país.
128. Advento, Natal e Epifania. salvação começa com o mistério do Natal, quando Cristo, edificando sua tenda entre nós (of. Jo 1,14), une o homem a Deus e aos irmãos, recons­tituindo a grande família humana.
129. A preparação para o Natal tem características próprias. Evocando a expectativa que precedeu a vinda do Messias, nos põe no coração toda a alegria e gratidão por sermos salvos. Ao mesmo tempo aprofunda o sentido da segunda vinda, o fim dos tempos, onde teremos em plenitude os bens que o Natal começa a dar-nos e nos convida a procurar.
130. A Liturgia do Natal celebra ainda a visita dos magos, o Batismo de Jesus e o Casamento de Caná: porque Cristo quis revelar-se desde o princípio como o Salvador de todos, veio capacitar-nos para sermos filhos no Filho e santificar as grandes realidades humanas.
131. Chamamos, de maneira não completamente feliz, de "Tempo comum" o mais longo tempo de celebraç.ões litúrgi­cas em que evocamos o mistério de Cristo em sua plenitude: são 33 ou 34 semanas dedicadas ao memorial do que Cristo fez e disse, esclarecendo as dimensões de nossa salvação. Foi para pregar e operar sinais que ele nasceu; morreu para se mostrar fiel à sua missão; e ressuscita para continuar suas ati­vidades na Igreja de maneira sacramental.
132. O Tempo comum não é tempo vazio. É tempo de a Igreja continuar a obra de Cristo nas lutas e nos trabalhos pelo Reino.
133. 0 Santoral. Temos na Liturgia, sobretudo no Tempo comum, um calendário de comemorações e festas dos santos e, em ,especial, da Virgem Maria. Ninguém desconhece quan­to é cara ao nosso povo a devoção aos santos, abrindo-nos
horizontes para nossa pastoral. A Liturgia valoriza este culto. Se nos ciclos do Natal e da Páscoa celebramos o que Cristo fez para sua Igreja, já na comemoração da Mãe de Deus e de todos os santos evocamos o que a Igreja realiza, em Cris­to, para a glória do Pai.
134. Por isso, não basta procurar nos santos apenas prote­ção nas diversas contingências da vida; impõe-se mais tê-tos como verdadeiros modelos de vida, inspiradores de nosso pro­jeto cristão.
135. Assim, Maria, para além de toda ternura que sua de­voção inspira, deve ser vista sobretudo como Mãe da Igreja; pois assim como o filho traz em seu rosto os traços de sua mãe, nós cristãos nos empenhamos por- marcar nossa vida com a escuta da Palavra, o amor incondicional a Cristo e a carida­de solícita para com os irmãos, que caracteriza a santidade de Maria.
136. Finalmente, não podemos deixar de notar uma certa defasagem que sofremos, celebrando a Liturgia única em rios­sas regiões. O Ano litúrgico, calcado sobre os ciclos cósmi­cos, encontra maior força de expressão quando se celebra a Páscoa para a nova Vida num cenário em que a natureza eclode numa floração de cores e vida. Cabe-nos suprir esse desencontro, ressaltando na Liturgia outros sinais; em vez da vida que ressurge no cosmos, uni-1a à Vida que anseia na História. Nesta linha se compreende melhor, por exemplo, a Campanha da Fraternidade, que nos faz refletir sobre os si­nais de morte, que marcam nossa sociedade para nos abrir, na Páscoa e pela Páscoa, às perspectivas de Vida, que Cristo nos oferece e nós devemos construir.
Por isso também merece atenção a ìniciativa de algu­mas regiões do Brasil, que celebram no último domingo de maio, final das grandes colheitas, o "Dia do Louvor'.'.
VII. ESPAÇOS E OBJETOS PARA A CELEBRAÇÃO M o J  C ¡ v;'· vcc S:1
137. No nosso país, por toda parte, onde quer que se aglo­merem moradias, o povo sente necessidade de local de reu­nião para celebrar sua fé.
138. No Missal e na Liturgia das Horas têm um natural destaque as festas de Dedicação das igrejas.
Embora as exigências pastorais façam surgir hoje no­vos lugares para cclebráão litúrgica, o templo é o espaço mais conveniente para nosso culto.
139. O templo é sinal da presença e ação salvífica do Pai; é imagem do Corpo Místico de Jesus Cristo, único e verda­deiro templo, construído com pedras vivas para oferecer sacri­fícios novos (of. Jo 2,19 e 21). O próprio Deus consente que nossos edifícios sejam sua casa', pois nesse espaço ele nos dá vivenciar a sua união conosco e a união fraterna entre nós. 140. Por isso, a igrcja-edifício é sinal também da Igreja­Comunidade2. Assim este edifício não é uma construção qual­quer: é sinal da Igreja peregrina, é imagem da Igreja celeste3. 141. A Igreja, como família de Deus, precisa de uma casa para reunir-se, dialogar, viver na alegria e na comum-união os grandes momentos de sua vida religiosa.
Tendo em vista a crescente urbanização, os gestores cuidem, devidamente, de que todas as comunídades sejam dotadas de locais de culto identificados claramente. Para man­ter a memória do sagrado no mundo que se dessacralíza, va­loriza-se o toque dos sinos nos horários devidos.
142. A Igreja-edifício deve ser funcional e signific_ativa,_ favoreoendo, através de configuração e distribuição dos dois espaços fundamentais, tanto a execução da ação litúrgica quanto a partícípação atíva dos fiéis4.
Para que cada um possa exercer corretamente a sua função, tenham o devido destaque, o presbitério, o altar, a sede da presidëncia, a mesa da Palavra, a cruz, o tabernáculo e lugar para os diferentes ministérios, para favorecer a partici­pação dos fiéíss.
143. A ornamentação do local concorre muito para expres­sar o sentido do templo. Por isso, nossas igrejas e t<mbém os outros lugares onde se celebra o culto, devem recorrer à arte e ao bom gosto para criar um ambiente religioso digno, cômodo, funcional e simples, sem ser banal. Cuidado especial se deve ter com a acústica, para possibilitar a comunicação da palavra e a execução da música, que pode impregnar o ambiente de nobreza e religiosidade quando ressoa bem.

144. Os vasos sagrados, os lugares, os livros e as vestes merecem atenção especial. No altar mantenha-se apenas o es­tritamente necessário para a Celebração eucarística.
É tradicional o costume de empregar material nobre para os vasos sagrados, dando-se liberdade aos artistas para executá-tos com criatividade e bom gostoó.
145. Os livros litúrgicos sempre foram cercados de especial veneração e trabalhados com arte esmerada por conterem a Palavra de Deus. Proclamá-1a, lendo folhetos, não expressa a dignïdade da Palavra e o apreço que por ela temos. Urge reintroduzir em nossas celebrações o uso dos Lecionários ou ao menos da Biblia, para que possamos melhor sentir e ex­pressar o apreço por Deus que nos fala.
146. As vestes litúrgicas com suas formas especiais e co­res variadas', são sinais para o povo e para os própríos mínís­tros de que eles agem aqui e agora em nome e na pessoa de Cristo e da Igreja. Indicam ainda a diversidade dos serviços prestados na celebração através do minìstro8.
147. A CNBB aprovou o uso da túnica ampla de cor neu­tra com a estola da cor do tempo ou da festa. Na confecção destas vestes deixa-se campo aberto à criatividade artística, que sabe respeitar o decoro do culto e a expressão de nossa cultura.
148. Os etementos-sinais na celebração. Como sacramento de Cristo, a Igreja revela e realiza a glorificação de Deus e a santificação da humanidade através de elementos naturais: pão, vinho, óleo, água, luz, fazem parte do comer, beber, ungir, lavar e iluminar, que são sinais nos sacramentos. A Liturgia recupera assim o sentido do mundo criado, revelando nos vã­rios elementos a sua capacidade de expressar simbolicamente a bondade do Criador.
É conveniente que esses elementos, para melhor serem sinais, sejam usados com certa abundância, que represente a refeição, o banho purífícador, a unção reconfortante.
VIII. LITURGIA E ESPIRITUALIDADE
149. Vida espiritual é uma vida orientada e alimentada pelo Espírito, que Cristo prometeu e derramouem Pentecostes. Desde então é o próprio Espírito que, dando testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Dcus, nos leva a viver como irmãos e irmãs e a construir o mundo, sinal do Reino, que Deus quer para sua fami'lia.
150. Como testemunham os Atos dos Apóstolos (At 2,42) os primeiros cristãos assimilaram logo as dimensões bb_lica, cómunitár_ia, sacramental e de comrómisso da_vida cristã. Pois freqüentavam a doutrina das testemunhas da Ressurreição, o encontro com os irmãos, o partir do pão entre orações, con­quistando a simpatia de todo o povo (of. At 2,27).
151. Na Igreja existem diversas formas de espirüualidade, nascidas do modo dc viver o seguimento de Cristo sob o impulso do Espírito Santo, que é sempre o mesmo e, entre­tanto, distribui generosamente sua diversidade de dons (of. lCor 12,4-ll).
152. Muitos santos, alguns deles fundadores de Congrcga­ções e Ordens religiosas, graças ao carisma que lhes é pró­prio, iniciam um estilo de vida expresso na maneira de acei­tar o dom da filiação e o projeto do Pai. E para felicidade da Igreja, fizeram escola.
153.  . A Liturgia é fonte de vida e expressão celebrativa da comunidade eclesial. Nela, homens e mulheres chegam ao mais alto patamar da comunhão com Deus, quando a criatura ama­
da e redimida por seu Senhor, dilata seu coração numa pcre­ne ação de graças, que se toma, por sua vez, bendita escola de gratuidade. Por outro lado, os leigos encontram fundamen­to para sua espiritualidade no Evangelho vivido por tantos cristãos leigos ao longo da história da Igreja.
154. Além disso, as comunidades eclesiais encontram na Liturgia os grandes elementos de toda vida espiritual: ali está a Palavra nos espaços privilegiados que as celebrações lhe dão. 155. Nunca rezamos tão unidos como na Liturgia, que se define como ação comunitária por excelência e é vista como escola e expressão alta de comunhão.
156. A Liturgia é sinal e instrumento da graça e se desen­volve na celebração da Palavra, da Eucaristia e dos outros sacramentos.
157. E porque o mistério pascal de Cristo celebrado e atua­lizado em cada sacramento deve ressoar e complctar-se na vida, toda a Liturgia deve levar a um compromisso social. O cristão celebrante é sinal vivo do mistério pascal e portanto instrumento de salvação integral. Por outro lado, na medida em que as comunidades estão comprometidas com a transfor­mação do mundo, seu engajamento repercute na Liturgia, fon­te e ápice de toda a vida cristã.
158. A espiritualidade ou seja a vida que o Espírito im­planta na escuta da Palav_ra, na construção da comunidade, na Fração do Pão, é a vida dos seguidores de_ _Cristo. Portanto, Cristo é o centro de toda espiritualidade. E é para alimentá-1a que ele se encontra no centro da Liturgia.
159. As celebrações são o exercício do sacerdócio de Cris­to, revelam, anunciam e tornam presentes as ações redentoras
do Filho de Deus, sacrificado pela libertação e salvação da humanidade.
160. Ligada a Cristo, que é o Verbo feito come para viver as realidades humanas, a Liturgia anima a vida cristã como a alma, todo o corpo. Dá dimensão espiritual à Semana pela celebração do Domingo, ao Ano todo pela seqüência dos ci­clos; está presente nos pontos altos da vida, pelos sacramen­tos e nos acontecimentos e situações do dia-a-dia, através da celebração de bênçãos apropriadas.
Em síntese, pode-se dizer: a espiritualidade litúrgica é o exercício antêntico da vida cristã, como vida em Cristo, enraizada nos sacramentos da Iniciação Cristã e que se atuali­za nas diversas ações litúrgicas especialmente na participação ativa na Eucaristia, da qual nasce e para a qual tende o teste­munho na esperança da feliz realização do Reino.
IX. ADAPTAÇÃO E CRIATIVIDADE 161. A reforma litúrgica provocou uma onda de reflexões e iniciativas, visando a encarnação das celebrações na vida, na índole e expressão do nosso povo. Para torná-1a mais atra­ente, buscaram-se meios, nem sempre felizes, de torná-1a menos desencarnada, fria e sem vida e mais espontânea, ale­gre e popular'.
162. Este esforço de incorporação das expressões culturais em nosso culto tem suas razões de ser. A longa história da Liturgia nos mostra como e quanto as adaptações Ihe são co­naturais.
163. Haja visto o apelo que nos vem, neste sentido nos grandes documentos da renovação litúrgica, pois a Igreja não deseja impor forma única e rígida de celebração, sem atender as legítimas variações exigidas pela diversidade dos grupos, regiões e povos2.
164. Entretanto, estamos aqui num terreno complexo e difí­cil, não só devido à herança pesada de quatro séculos de imo­bilismo, mas também porque não é fácil mudar as formas da celebração sem violentar a identidade da Liturgia. Além de um profundo conhecimento da Liturgia em suas dimensões teoló­gicas e histórica, impõe-se formar uma idéia clara e firme do que se pretende com as várias adaptações que buscamos3.
165. A este propósito as palavras que mais se repetem são: adaptação, criatividade, aculturação e inculturação. São noções ricas, mas às vezes não bem e inteiramente compreendidas. 166. Adaptação.O objetivo da Liturgia é comunicar à humanidade a vida de Cristo e apresentar ao Pai seu culto de glorificação. Ela o alcança através de formas litúrgicas reno­váveis conforme os tempos e situações culturais dos povos. Essa renovação pedagógica e pastoral é que chamamos adap­tação.
167. O grande motivo para mudar palavras, gestos, sinais e ritos não é o gosto das pessoas celebrantes ou a moda em voga em determinados momentos, mas a maior participação no culto a Deus4 integrado em nossa vida atual.
168. Por isso, a adaptação litúrgica se faz com critérios: é para tornar os sinais mais transparentes à mentalidade e cultura do povo; é para conseguir aquela participação consciente e ativ_a que nos põe em comunhão com a Igreja local e universal; é para ressaltar melhor _o _conteúdo fundamental de nossa Liturgia, que é celebração da fé no mistério de Cristo, ponto culminante do projeto de Deus.
169. Esta adaptação com estes critérios se exerce em vá­rios níveis: tem lugar tanto na tradução dos textos e modifica­ção dos ritos, como na celebração dos sacramentos e da Eu­caristia, atema à índole das diferentes assembléias.
170. Criatividade. Tanto a adaptação, como a aculturação e a inculturação, exigem muita sensibilidade e inteligência clara na hora de se reformular ritos, gestos, sinais e textos.
Por criatividade não se deve entender tirar como que do nada expressões litúrgicas inéditas. Pelo contrário, a verda­
deira criatividade é orgânica: está ligada aos ritos precedentes como o celebrante de hoje aos do passado. Uma fé, que não cria cultura, não foi suficientemente anunciada, não foi completamente assimilada ou não foi plenamente vivida.
171. Para melhor entender a criatividade é mais prático observar onde ela se realiza.
Celebrar bem é o primeiro princípio da criatividade. O presidente a assembléia, por exémplo, não pode exécutar gestos e textos sempre do mesmo modo, quando está só com crianças ou num pequeno grupo ou numa igreja lotada.
172. E sobretudo, em qualquer situação, fazer com que os ritos e as pálávras tenham vi_da e exprimam a fé que desperta a Palavra proclamada, a oferta trazida ao altar, a procissão rumo à mesa eucarística. Nada disto se encontra nas rúbricas: é preciso criar.
173. Já há espaço para a criatividade nas opções ofereci­das pelos livros para vários ritos, como o ato penitenciai, leituras para os sacramentos e para o canto. É com as atenções voltadas para a assembléia que a escolha deve ser feita, quando se prepara seriamente a celebração. O mesmo se diga, com mais razão, das várias aberturas que são dadas ao presidente para fazer a sua exonação ao seu povo. Os folhetos deveriam oferecer possibilidades para as devidas adaptações dentro de uma sadia criatividade.
174. É meta da criatividade a introdução de novos símbo­los, mais compreensíveis do povo de hoje, porque criados pela piedade popular ou experimentados nas CEBs e outros gru­pos de oração5. Para isso inaugure-se um processo de pesqui­sa, reflexão e análise, com ajuda de um grupo de trabalho,
integrado por teólogos, liturgistas, pastoralistas e outros espe­cialistas.
175. Finalmente, a Igreja vista hoje como toda ministerial e Cristo, compreendido como Libertador do homem todo, sob a ação do Espírito que a anima, hão de levar o homem todo a novas maneiras de celebrar, na Liturgia, a fé que professa­mos na vida.
176. Aculturação. A criatividade vai além da adaptação que transplanta ou enxerta elementos culturais na Liturgia. Por ela espera-se mais, e qüer se chegar a um nível mais profundo que se chama aculturação.
177. De modo geral, aculturação acontece no encontro de duas culturas resultando daí uma síntese ou a dominação de uma pela outra.
Aplicado à Liturgia, o termo designa o roces_so di_nâ­mico que se desencadeia quando a fé se ,inst<la nas bases de uma cultura.
Há elementos culturais próprios de cada povo que são compatíveis com a liturgia romana, primeiro porque são isen­tos de erro e superstição e assim, facilmente, podem ser in­corporados por ela; além disso, se a Igreja cultiva os valores das várias nações, não é apenas para atender ao desejo dos povos, mas para secundar as exigências da própria Liturgia. 178. Na medida em que este processo leva à elaboração de novos elementos nos ritos, é preciso aprovação da Conferên­cia Episcopal e da Sé Apostólicaó, pois cabe a essas instân­cias garantir o autêntico espírito litúrgico e preservar a unida­de substancial do rito romano.
179. Inculturação. A inculturação já é processo mais pro­fundo: simplesmente incorpora ritos sociais ou religiosos, dan­do-lhes sentido cristão, sem desfigurar sua natureza. A pró­pria liturgia romana assim se formou, incorporando, por exemplo, a festa pagã do Sol invicto na celebração do Natal. 180. Por esta inculturação a Liturgia se propõe continuar na História o milagre de Pentecostes quando, sob o impulso do Espírito, multidões entendiam a linguagem única do amor e proclamavam as maravilhas de Deus, expressando-se cada um em sua língua (of. At 2,4.6).
181. Nas Missões modernas, voltando ao espírito de Sáo Paulo, missionário das nações, a Igreja descobriu na floração dos valores culturais dos povos, as sementes do Verbo pre­sentes no íntimo das pessoas à espera da luz do Evangclho. 182. O Concílio confiou à competência e ao zelo das Con­ferências Episcopais de todo o mundo a incumbência dc estu­dar com seus peritos os elementos que oportunamente podem ser incorporados na Liturgia. Isto vem ao encontro dos anseios de integrar em nossas celebrações expressões da religiosidade popular.
183. Entre nós os vários grupos étnicos, como os índios, os negros, os orientais, apresentam muitos desses elementos, que já merecem ser incullurados em nossas celebrações, sobretu­do nos sacramentos.
X. A PASTORAL LITURGICA
184. Uma visão geral da Liturgia abre novos horizontes para a vida da Igreja e não dissimula, mas ressalta os grandes de­safios que urge enfrentar.
185. A reflexão que empreendemos tem um objetivo con­creto e premente que é a Pastoral litúrgica, ou seja, a ação organizada e corajosa da Igreja para levar o Povo de Deus à participação consciente, ativa e frutuosa na Liturgia.
186. Promover a Liturgia já é ação pastoral pelas dimen­sões comunitária e ministerial, catequética, missionária, ecu­mênica e transformadora que ela possui. Ela não esgota toda a ação da Igreja, mas promovendo-a, estamos desencadeando o dinamismo de todas as pastorais, pois a Liturgia é fonte e ápice de toda atividade eclesial'.
187. Coração e cérebro desta pastoral é a Equipe de Pasto­ral Litúrgica em nível nacional, diocesano e paroquial. Ca be­Ihe com a CNBB, com o bispo ou com o pároco planejar, nos respectivos campos de ação, a Pastoral litúrgica, o que será mais eficiente se continuamente pesquisar a situação real dos que celebram, aprofundar sempre mais seu conteúdo teológi­co, formar agentes e organizar sua ação.
188. Estas equipes, grande anseio do Conci7io, nós as esta­mos organizando de modo lento demais face às urgências des­ta pastoral2.
189. A grande tarefa destas equipes é dinamizar um proces­so de formação de todos os participantes da Liturgia, visan­do, de um lado, que a celebração seja sempre mais expressi­va e, de outro lado, o enriquecimento espiritual de todo 0 povo.
190. É fundamental que os seminaristas se familiarizem com o espírito litúrgico e se preparem bem para presidir as cele­brações; para isso importa que os diversos aspectos da forma­ção no seminário encontrem expressão privilegiada nas cele­brações litúrgicas, além de observar atentamente a carga horá­ria mínima e o conteúdo programático estabelecido3. Assim
, a vivência da Liturgia acompanha todas as etapas da vida do formando. É importante que desde o início do seminário te­nha uma participação consciente e ativa na Liturgia e apren­da gradativamente a celebrar a Liturgia das Horas. O Ano Litúrgico deve orientar a espiritualidade comunitária do semi­nário.
191. Que os presbíteros se aprimorem de modo permanen­te para crescerem na compreensão e animação dos vários ministérios4, já que para a maioria do nosso povo a celebra­ção da Liturgia é a única evangelização de que participam de fato ao longo de sua vida. E não se esqueça que a Liturgia mal celebrada causa freqüentemente o afastamento dos fiéis. Os presbíteros valorizem, a celebração da Liturgia das Horas, como parte de seu ministério..
192. Os homens e mulheres que assumem funções ou só participam na Liturgia sejam imbuídos do espírito litúrgico, tenham consciência dos mistérios que celebram e sejam capa­citados para executar as suas funções5; e que os irmãos e ir­
mãs religiosos tenham no programa de seu processo formati­vo a preocupação de transformarem a Liturgia em fonte da própria espiritualidade e de se tornarem animadores da cele­bração litúrgicaó, inclusive, participando de cursos promovidos pela CRB e dioceses.
193. A nossa comunidade eclesial caminha na História, in­terpretando o homem à luz de Cristo na Igreja. Portanto, que a formação litúrgica se aprofunde, estudando o mistério de Cristo e da Igreja. Pois as variações nos enfoques da Cristolo­gia e Eclesiologia determinam maneiras diversificadas de ce­lebrar. A Liturgia tem a tarefa de construir comunidades ecle­siais vivas e missionárias.
194. Por outro lado, a pessoa humana que celebra, sendo profundamente marcada pelas circunstâncias históricas, sociais, culturais e políticas, tem naturalmente maneiras diferentes de se expressar. Isso é importante para a Liturgia, que deverá ser sensível às condições da população: se é urbana ou rural, se vive em ambiente secularizado, ou dominada pelos Meios de Comunicação Social'. É preciso estudar esta antropologia que dá tão precioso contributo para a formação litúrgica.
195. Tenha-se presente que a grande meta desta formação ampla e profunda é preparar agentes para a aculturação e a inculturação da Liturgia, porque homens e mulheres que vi­vem as duas realidades, a sócio-cultural e a celebrativa, pode­rão facilitar a tarefa para os responsáveis por esse processo. 196. É importante, enfim, partir para este enriquecimento da Liturgia, porquanto, precisamos fazer a celebração sempre mais autêntica, mais unida à vida, para transformar a vida toda em oração.
II PARTE ORIENTAÇÕES PASTORAIS
SOBRE A CELEBRAÃO . EUCARISTICA
197. Tendo em mente o que vimos na I PARTE, vamos agora considerar apenas a Missa dominical celebrada com o povo. Esta é a forma de celebração denominada "típica" pela Instrução Geral sobre o Missal Romano (cf. n° 77-78). Even­tualmente, pela escassez de padres, pode acontecer, especial­mente em ambientes rurais, que esta forma, infelizmente, só deva realizar-se em dias de semana.
198. Estas celebrações da comunidade reunida para a Ceia no Dia do Senhor, embora tenham uma unidade fundamental, são muito diferentes, dependendo do lugar e dos grupos de pessoas. Não é o mesmo celebrar no centro da cidade ou na periferia, na capela rural ou numa catedral, com muitos fiéis ou poucas pessoas numa CEB. O mesmo se pode dizer de celebrações no Norte, Nordeste, ou no Extremo Sul. Não se pode deixar de levar em consideração estas particularidades, em conseqüência do princípio: o sujeito da celebração é a Igreja reunida em assembléia, com suas particularidades pró­prias.
199. É com profundo respeito por esta diversidade da Igre­ja reunida para a celebração que foram elaboradas as orienta­ções que se seguem. Elas hão de contribuir para uma celebra­ção mais ativa, consciente e frutuosa da Missa na Igreja no Brasil, que quer dar novo ânimo à vida litúrgica.
200. Estas orientações pastorais não substituem a Instrução Geral sobre o Missal Romano e demais diretrizes dos Dicas­térios Romanos ou as orientações do Episcopado. Querem, apenas, sublinhar alguns pontos que parecem mais importan­tes, interpretando-os à luz da realidade do nosso povo, sim­ples e sedento da Palavra.
201. Queremos incentivar as comunidades a valorizar ain­da mais a celebração da Missa e encorajar pastores e Equi­
pes de Pastoral Litúrgica a prosseguirem no esforço de tornar mais evidentos suas riquezas. Acelebração da Ceia do Senhor é, de fato, o grande momento da ação do Espírito Santo so­bre a comunidade. Nela se realiza o verdadeiro encontro cele­brativo de irmãos, num momento comunitário, festivo, partici­pativo e orante, que brota do chão da vida, ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada da vida cristã.
202. Primeiramente se trata de alguns elementos que dizem respeito à Missa em geral, mas do ponto de vista pastoral, complementando as considerações da I PARTE. Em seguida, se abordam, pormenorizadamente, as diversas partes da Missa.
I. A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA
1. Celebração da Eucaristia e Comunidade . 203. Ser cristão é fundamentalmente, pelo Batismo, seguir
o caminho de Cristo na vida e entrar como Igreja na cami­nhada pascal do Senhor. A celebração da Missa, como toda celebração, é sempre tempo especial, que os batizados tomam para fazer o memorial da ação de Deus em favor de seu povo: o que Deus fez ontem, faz hoje e fará sempre. A vida antece­de e sucede à celebração, porque celebrar é um momento de nossa vida, mas diferente da labuta cotidiano. Existência cris­tã e celebração estão intimamente relacionadas, pois a vida precisa de momentos de celebração para ser vivida em Cristo. 204. Com freqüência, porém, no Brasil como em outras partes, sente-se um anseio pua que a relacão entre Liturgia e vida apareça melhor na celebração. Ora, na Eucaristia-Páscoa do Senhor, é onde a vida se articula mais com a celebração; pois a Missa é que melhor celebra a Morte e Ressurreição de Cristo, acontecimento fundente não só da Liturgia, mas de toda a História.
205. Celebrar o mistério de Cristo é celebrar Cristo em nossa vida e a nossa vida em Cristo. À luz do mistério pas­cal, a caminhada do continente latino-americano, marcado pelo mal e em busca de uma libertação integral, deve ser interpre­tada como processo pascal. Portanto, não é alheia à celebração. 206. As comunidades, na sua caminhada, saberão como in­tegrar Liturgia e vida. A tradição litúrgica da Igreja lhes
apontará outros dois caminhos: a aculturação e a integração dos acontecimentos na celebração.
207. A fidelidade à linguagem litúrgica nos dará segurança no aproveitamento desse terreno novo. Sobretudo na Missa, forma mais freqüente e mais freqüentada de Liturgia, deve transparecer prevalentemente a ação e não só longa comunica­ção verbal. Uma leitura dramatizada, uma procissão em ritmo de dança estão nessa perspectiva.
A Missa, que sempre comportou os elementos visuais que ajudam a oração, pode hoje beneficiar-se com os moder­nos recursos, como slaides, posters, vídeos e retro-projetores. 208. A recomendação para dar não só valor, mas "grande valor" ao canto e à música nos leva a insistir neste particular.
Fundamental é que a assembléia se expresse a seu modo e por isso, ela escolha e até, sem excluir outros, com­ponha seus próprios cantos. Para que o povo tenha formação para isso e produza letra e música adequadas à Missa e ou­tras celebrações, é preciso educá-1o. Um subsídio, por exem­plo, é o Hinário publicado pela CNBB.
209. Além disso, é necessário ampliar a área do canto, hoje ainda um tanto restrita em nosso meio. A Oração eucarística, nas partes permitidas ou ao menos o Prefácio e a Narração da Instituição; as leituras ou a sua conclusão são um campo quase inexplorado ainda. E as aclamações, pelo seu valor de diálogo, comunicação e participação dos fiéis, devem ter mais incentivo e ser mais variadas: cantos, palmas ou vivas.
210. Os instrumentos musicais disponíveis em cada região podem ser admitidos no culto divino a juízo e com o consen­timento do Bispo Diocesano contanto que sejam adequados ao
uso litúrgico ou possam a ele se adaptar, condigam com a dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis'.
2. Preparação da Celebração da Eucaristia
211. Todas as recomendações e perspectivas acima lembra­das exigem que a Missa não seja uma celebração improvisa­da ou rotineira, mas preparada com esmero.
212. A Missa renovada pelo Vaticano II é "ação de Cristo e do Povo de Deus hierarquicamente organizado"z, reunido em assembléia, onde cada um tem o direito e o dever de partici­par segundo a diversidade de ministérios, funções e ofícios3. 213. Mas não basta a mera distribuição de tarefas ou a simples escolha de cantos, como muitas vezes ocorre, fazen­do o povo ser apenas executor de funções e não verdadeiro agente da ação litúrgica°.
214. Por isso, é necessário envolver a comunidade de modo mais amplo e mais ativo, por exemplo, na seleção e ensaio dos cantos e na preparação prévia das leituras bôlicas: na escolha de gestos e ritos expressivos, conforme seus costumes, bem como possa sugerir pistas para monições e inúoduções. Pode ainda colaborar na escolha do rito penitenciai, com eventuais questionamentos ou invocações, propondo intenções para a Oração dos fiéis, e até sugestões para a homilia.
215. Sobretudo nesta busca de uma Missa sempre bem pre­parada, é indispensável ter uma Equipe estável de Pastoral Litúrgica, distinta eventualmente de Equipes de Celebração. Não há evidentemente normas quanto a constituição e ao fun­cionamento de uma Equipe de Pastoral Litúrgica. As experi­ências das comunidades são importantes neste ponto. Assim a Equipe de Pastoral Litúrgica é aquela que, de modo está­vel, se preocupa com a vida litúrgica da comunidade local, que celebra não somente a Eucaristia, mas lambem os outros sacramentos e sacramentais. ­
216. A Equipe há de reunir pessoas que tenham dom e capacidade ou que já exerçam ou gostariam de exercer fun­ções específicas na celebração. O ideal é que ela reflita a as­sembléia na sua diversificação de idades, sensibilidades e en­gajamentos nas diversas dimensões da pastoral da Igreja. A renovação periódica dos seus membros, para evitar monopó­lios, cansaço, rotina e permitir efetivamente a participação da comunidade, é muito importante.
217. Quanto às Equipes de Celebração, além de estarem abertas à participação para um número maior e mais varíavel de pessoas, podem ser constituídas por grupos definidos, sob a orientação da Equipe de Pastoral Lilúrgica. A Paróquia terá então a equipe dos jovens, dos casais, das catequistas, do quarteirão, do bairro ou do movimento, que vão se revezando na animação das Missas e dos sacramentos.
218. O padre participará o mais possível da preparação. De qualquer forma, antes da celebração, por exemplo, através de uma folha-roteiro e de um breve encontro, o sacerdote e cada um dos que irão exercer uma função particular, saibam quais os textos, cantos, ritos, orações que lhes competem, "pois a
boa ordenação da celebração é importante para a participação de todos"5.
219. Haverá certamente muitas maneiras de se preparar uma celebração. Indicamos uma, ao lado de outras possíveis:
220. 1 ° Passo: situar a celebração no Tempo litúrgico e na vida da comunidade.
1) Situar a celebração no Tempo litúrgico: ver o Domingo e o Tempo litúrgico. Por exemplo: IV Domingo da Páscoa, Evangclho do Bom Pastor. No início de um novo Tempo litúrgico será útil aprofundar o sentido do Tempo, dis­cutir algumas características próprias que darão um estilo à sua celebração. Não se celebra do mesmo jeito na Quaresma ou no Tempo pascal.
221. 2) Situar a celebração na vida da comunidade: aus­cultar os acontecimentos que marcam a vida de nossa comu­nidade que passaram ou que vêm: sociais, religiosos; do dia­a-dia, da comunidade, da região; nacionais, internacionais... Para enraizar a celebração no chão da vida, na história onde nos atinge o mistério de Cristo que celebramos, é bom ver a realidade que marca as nossas vidas.
222. 3) Ver outros acontecimentos que marcam a celebração: por exemplo, uma data especial, dia da Bíblia, mês de maio, dia das mães, aniversário do pároco e outros já citados, marcarão a oração dos fiéis, o rito penitenciai, a homilia.
223. 4) Ver com quem se vai celebrar: o conhecimento da assembléia com suas características próprias, sem esquecer os
grupos minoritários, é importante, também, para situar a cele­bração no tempo e na história.
224. 2° Passo: Aprofundar as leituras.
Neste segundo passo da preparação lêem-se os textos bíblicos à luz dos acontecimentos da vida e do mistério cele­brado (1g passo). Convém iniciar pelo Evangelho que é a lei­tura principal do mistério de Cristo celebrado; e, a seguir, a lá leitura, o salmo responsorial e a 2á leitura.
225. Opera-se, então, o confronto entre a Palavra de Deus e a vida ajudado pelas perguntas: o que dizem as leituras? o que significam para a nossa vida? como podem orientar o nosso agir? quais os desafios de nossa realidade hoje? como a palavra de Deus ilumina nossa realidade? como ligamos a Palavra com o mistério celebrado?
226. 3° Passo: Exercício de criatividade.
À luz dos passos anteriores - vida da comunidade, Tempo litúrgico, Palavra de Deus - procura-se, num exercí­cio de criatividade, fazer surgir idéias, mesmo sem ordem, à maneira de uma tempestade mental. Selecionar depois as idéias a respeito de ritos, símbolos, cantos, para os ritos da entrada, o ato penitenciai, o gesto da paz, a proclamação das leituras etc.
227. 4° Passo: Elaborar o roteiro da celebração, levando em conta os passos anteriores.
Define-se primeiramente o tom da celebração, isto é, o estilo global que convém a uma Missa de Páscoa, ou de 7g Dia, ou com crianças... A seguir, passando em revista as di­versas partes da Missa, escolhem-se os cantos, os ritos clc.,
para cada momento da mesma, registrando tudo numa folha­roteiro, que servirá de guia para os diversos ministros.
228. Aí também se distribuem as tarefas e os serviços; ano­tam-se coisas a fazer antes da celebração, como cartazes de­coração, ensaios ele; e também o que deve ser feito durante a celebração: não só o que fazer, mas quem o faz e quando.
II. AS PARTES
DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA 229. A Missa compõe-se das seguintes partes: A) Ritos iniciais; B) Liturgia da Palavra; C) Liturgia Eucarística; D) Rito de Encerramentol. É importante que saibamos reconhe­cer estas diversas partes, que formam a espinha dorsal da ce­lebração, pois é no interior deste esquema fundamental que serão feitas as escolhas que visam a eficácia pastoral.
230. Ao considerar as diversas partes da celebração, subli­nhamos apenas aquelas que parecem mais importantes nas cir­cunstâncias pastorais diversificadas da Igreja no Brasil, à luz da caminhada de 25 anos de celebração da Eucaristia, desde o Vaticano II.
I. Ritos iniciais da Missa: formar assembléia, "entrar no clima da celebração".
231.
O ESQUEMA RITUAL Canto de abertura
Sinal da Cruz, Saudação, Acolhida Ato penitenciai
Hino "Glória a Deus" Oração do dia AMÉM
232. As partes que precedem a Liturgia da Palavra, isto é, introdução eventual à celebração pelo(s) animador(a), "entra­da dos ministros, saudação, ato penitenciai, Senhor, tende pie­dade, Glória e Oração do dia (Coleta) têm caráter de exór­dio, introdução, preparação"2. Por isso mesmo tem grande importância para uma boa celebração.
233. "Esses ritos têm por finalidade fazer com que os fiéis reunidos constituam a comunidade celebrante, se disponham a ouvir atentamente a Palavra de Deus e celebrar dignamente a Eucaristia"3.
234. Para suscitar estas disposições poderá ser oportuno, sempre segundo as circunstâncias locais, desenvolver ou subli­nhar mais um ou outro elemento inicial, evitando acentuar tudo ao mesmo tempo.
235. 0 Diretório para Missas com crianças prevê, para evitar a dispersão, que se possa "omitir um ou outro elemen­to do rito inicial", exceto a Oração do dia (Coleta) e sem que nenhum seja sempre desprezado4.
236. Em certas circunstâncias tradicionais, o Missal Roma­no prevê também a omissão parcial ou total dos ritos iniciais excetuada a Oração do dia, quando outros ritos precedem e integram a liturgia do dia, por exemplo, no Domingo de Ramos e da Paixão e na Apresentação do Senhor, após a pro­cissão. Nestes casos, os ritos de bênção e procissão desempe­nharão também a função dos ritos iniciais, que é a de consti­tuir a assembléia, bastando a Oração do dia e o Glória, quan­do previsto. O mesmo poderá dar-se, se oportuno, em certas
circunstâncias de nossas comunidades, por exemplo, na Festa do Padroeiro ou encerramento do mês de Maio ele., quando a Missa segue imediatamente a procissão solene. Também no caso de integração da Liturgìa das Horas com a Missa, há substituição de ritos iniciais. Nunca há de faltar, no entanto, a Oração do dia (Coleta), que é a mais tradicional forma de abertura de uma celebração.
Entrada 237. Nossas celebrações costumam ser precedidas por bre­ves palavras iniciaís do(e) animador(a). Mais do que uma exortação ou de uma introdução temática, é preferível situar a celebração deste Domingo particular no contexto do Tempo litúrgico e das circunstâncias concretas da viáa da comunida­de; evocar algumas grandes intenções subjacentes à oração, suscitar atitudès de oração e convidar ao início da celebração com o canto da entrada.
238. Enquanto o sacerdote entra com os demais ministros, a assembléia é convidada a levant<r-se, para du início à cele­bração com o canto da entrada.
finalidade deste canto é justamente dar início à cele­bração, criar o clima que vai promover a união orante da comunidade e introduzir no mistério do Tempo litúrgico ou da festas. Por isso, pode ser útil prolongar o tempo deste pri­meiro canto, para que atinja a sua finalidade.
239. Este canto de abertura acompanha também a entrada do sacerdote e dos ministrosó. Onde for possível, é convenien­
te valorizar uma verdadeira procissão de entrada do sacerdote e dos demais ministros, que prestarão um serviço específico na celebração: acólitos, ministros extraordinários da Comunhão, leitores e outros ministros, como, por exemplo, os que vão ler as intenções da Oração dos fiéis, os que vão trazer as oferen­das, eventualmente, cantores etc. Estes ministros, ogortuna­mente, tomarão lugar no presbitério. ­240. Há possibilidade de uma grande variedade nesta pro­cissão. O Missal Romano' prevê, se oportuno, o uso de cruz processional acompanhada de velas acesas, turíbulo já aceso, livro dos Evangelhos ou Lecionário. Outras circunstâncias poderão sugerir novos elementos como círio pascal, água bcn­ta, bandeira do padroeiro numa festa de santo, ramos, carta­zes com dizeres, participação de representantes da comunida­de (adultos, jovens, crianças)8.
241. A introdução da dança litúrgica na procissão de entra­da, onde for conveniente e a juízo e consentimento do Bispo Diocesano, poderá ser de grande proveito para criar o clima de celebração festiva da fé.
242. Não havendo nenhuma possibilidade de procissão de entrada, como ocorre freqüentemente em capelas com muita gente, o sacerdote poderá fazer primeiramente a saudação, para convidar, em seguida, o povo a cantar o canto inicial9.
Saudação ao povo reunido
243. Para saudar o povo reunido, expressando a presença do Senhor nele e o mistério da Igreja'°, o sacerdote é convidado a usar uma fórmula ritual de inspiração bíblica à qual o povo responde com uma fórmula conhecida e sempre a mesma.
Eventualmente, a saudação ritual ganhará mais signifi­cado se for cantada.
244. É desejável que após esta saudação ritual haja uma palavra mais espontânea de introdução do sacerdote ou de outro ministro idôneo".
Uma sadia criatividade saberá desenvolver com fruto diversas inovações possíveis como: saudação espontânea aos presentes, em particular aos visitantes ou novos membros da comunidade que se apresentam; a categorias específicas, con­forme as circunstâncias (jovens, casais, mães clc.), seguida eventualmente por um breve canto de boas vindas. A motiva­ção para a celebração pode incluir intenções da assembléia, ou acontecimentos a comemorar à luz do mistério pascal. Oportunamente, gestos da assembléia poderão intervir, por exemplo, acolher-se mutuamente através de saudações aos vizinhos, batér palmas, dar vivas em tionra do Cristo Ressus­citado, a Nossa Senhora, ao Padrociro(a) em dia de festa etc. 245. Em tudo isso, trata-se de ajudar a criar um ambìente acolhedor, fraterno e formar uma verdadeira comunhão na fé, usando de discernimento e variedade, conforme as circunstân­cias do Tempo litúrgico, de lugar e de cultura.
Ato penitenciai
246. "Em seguida, o sacerdote convida ao ato penitenciai , realizado então por toda a comunidade, por uma confissão geral, sendo concluído com a absolviçãe- geral"'2
247. Geralmente, entre nós, o ato penitenciai é um momen­to importante da celebração, valorizado por uma sadia criati­vidade. Muito bem acolhido em nossas comunidades, tem como função preparar a assembléia para "ouvir a Palavra de Deus e celebrar dignamente os santos mistérios"13.
248. Além de celebrar a misericórdia divina, duas atitudes básicas podem ser sublinhadas: o reconhecer-se pecador, cul­pado e necessitado de purificação, na atitude do publicano descrita em Lucas I8,9-14, e o reconhecer-se pecador com expressão de "temor" diante da experiência do Deus Santo e Misericordioso, a exemplo de Pedro, conforme Lucas 5,8 e Isaías 6,1-7. De acordo com as circunstâncias, pode-se acen­tuar um ou outro aspecto.
249. O Missal Romano prevê o seguinte esquema: Introdução do rito pelo sacerdote
momento de silêncio
fórmulas várias para reconhecer-se pecador: a) Confesso a Deus (Ato de contrição)
b) Versículos: Tende compaixão...
c) Forma titânica: invocação à escolha e resposta: Senhor, tende piedade...
Conclusão: absolvição geral
250. Temos, pois, os seguintes elementos: a) introdução pelo sacerdote; b) parte central do rito, que permite a intervenção de outros ministros que não sejam o sacerdote; c) conclusão com a absolvição geral, onde o sacerdote também se inclui para deixar claro que não se trata do sacramento da Penitência­
Todo o rito, por sua vez, pode ser substituído pelo Rito da Bênção e Aspersão da águal4.
O ponto central do rito comporta, além de um tempo de silêncio, fórmulas diversas de reconhecer-se pecador: 1) Ato de contrição (Confesso a Deus); 2) Versículos: Tende compai­xão...; 3q Forma Iitânica com invocações à escolha e respos­ta: Senhor, tende piedade de nós.
251. Este esquema, respeitando o espírito da variedade, poderá ser usado com grande flexibilidade. Um ministro que não seja o sacerdote poderá orientar o momento de silêncio com um exame de consciência para cada um olhar a sua vida e deixar que Deus olhe o seu coração ou orientar as invoca­ções livres do "Senhor, tende piedade"'s.
252.  Existe a possibilidade de o rito penitenciai integrar ou ser complementado por cantos populares de caráter penìten­cial, refrões variados, atitudes corporais (inclinar-se, ajoelhar­se, erguer as mãos em súplica, bater no peito, fechar os olhos, colocar a mão no coração etc.), símbolos (objetos ou gestos), bem como de elementos visuais (cartazes, slaides...) que se julgarem mais aptos para externar os sentimentos de penitên­cia e de conversão.
253. Os tempos penitenciais como a Quaresma e outros, quando não se canta o Glória, serão mais propícios para um
ríto penitenciai mais desenvolvido, de acordo com a pedago­gia do Ano litúrgico, permitindo assim maior variedade.
254. Embora se deva educar a consciência moral, cuidar-se­á para não se cair nem no perigo do moralismo nem no de acusação aos outros nem ainda no psicologismo aético; devem ser valorizadas sobretudo as dimensões teológicas, experien­ciais e libertadoras do amor de Deus e da reconciliação.
255. 0 rito penitenciai bem realizado pode tornar-se um lugar importante para o ministério pastoral da educação ao senso do pecado pessoal, comunitârio, social e do ministério da reconciliação de toda a Igreja, que encontra o seu ápice de sacramentalidade no Batismo e na Penitência.
Kyrie eleison - Senhor, tende piedade
256. De vez em quando convém valorizar o "Senhor, ten­de piedade" em si, sem ser integrado no rito penitenciai, como "canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia"'6, a sua atenção. É uma aclamação pela qual podemos louvar o Senhor Jesus pelo perdão, por "olhar por nós" na sua misericórdia.
Glória 257. O Glória é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja glori ice a Deus Pai e ao Cordeiro. Não consti­tui uma aclamação trinitária.
Oração do dia (Coleta)
258. "A seguir o sacerdote convida o povo a rezar; todos conservam-se em silêncio com o sacerdote por alguns instan­tes, tomando consciência de que estão na presença de Deus e formulando interiormente os seus pedidos"".
259. Se os ritos anteriores tiveram bastante dinamismo, é fácil para o sacerdote motivar com poucas palavras o povo para uma oração silenciosa de alguns instantes. Será um ver­dadeiro momento de recolhimento profundo, onde se experi­mentará a presença de Deus que fala nos corações.
260. A oração presidencial, a seguir, rezada pelo sacerdote reassumindo em Cristo toda a oração do povo, exprime em geral a índole da celebração. O tom de voz e a maneïra de rezar, o gesto de mãos abertas, que o povo, eventualmente, poderia acompanhar, uma palavra melhor explicitada, ajuda­rão a fazer deste momento o lugar de uma verdadeira súplica a Deus Pai, expressão de sua vida e de sua experiência reli­giosa'8.
261. A coleção das Orações do dia (Colct<s), as Orações sobre as oferendas c Depois da Comunhão do Missal Roma­no constituem um acervo de valor teológico inestimável. Nem sempre, no entanto, a sua linguagem e conteúdo correspon­dem às sensibilidades culturais de nosso tempo. Por isso, na 2á edição típica do Missal Romano a ser aprovada pela Sé Apostólica, a CNBB oferece uma tradução mais popular des­sas orações dos domingos, e uma série de Orações do dia al­ternativas para cada um dos domingos dos Anos A, B e C, inspiradas no Evangelho do dia.
2. Liturgia da Palavra: Celebrar a Palavra.
262. Resumindo, a Liturgia da Palavra da Missa é consti­tuída a) pelo anúncio da Palavra (organização das leituras, incluindo o Salmo), b) sua atnalização na homilia e c) a resposta à Palavra no Creio e na Oração dos fiéis.
Deus fala seu povo reunido responde 1. leitura
Antigo Testamento e Atos dos Apóstolos
. o salmo <..................................................
2. leitura
Epístolas e Apocalipse ...................................................> Aclamação Evangelho
. Aclamação <... ..homilia... ..>
Creio Oração dos fiéis AMÉM
A Liturgia da Palavra é um diálogo entre Dcus e o seu Povo.
0 desafio da Liturgia da Palavra
263. A experiência nos mostra que celebrar a Palavra de Deus não é fácil. Apesar de o nosso povo gostar da Bíblia, muitas vezes a Liturgia da Palavra aparece como uma suces­
são enfadonha de leituras e comentários enfileirados um após outros; em conseqüência, cai-se facilmente no discurso cate­quético, moralizador, doutrinal, ideológico.
264. Além disso é difícil deixar claro que a Palavra de Deus é antes de tudo um Eu que se dirige ao Tu do seu povo reu­nido dialogicamente; e mais ainda, que neste diálogo a Pala­vra é, efetivamente, Palavra eficaz do Deus libertador que cria vida nova.
265. Mas duas experiências bem sucedidas mostram cami­nhos gossíveis. O primeiro refere-se às CEBs ou outros gru­pos mais homogêneos, que conseguiram uma maior partilha da Palavra no confronto entre Bíblia e vida das comunidades ou grupos. O segundo caminho, na Iinha da Lradição romana e mais adequado aos grandes grupos, acentua certos ritos, que não são necessários nos grupos anteriores. A Lüurgia da Pala­vra, comporta ações simlxílicas como gestos, elementos visuais, música eLc.
As leituras
266. "A parte principal da Liturgia da Palavra é constituí­da pelas leituras da Sagrada Escritura e pelos cantos que ocorrem entre elas, sendo desenvolvida e concluída pela ho­milia, a proGssão de fé e a oração universal ou dos fiéis"'9. 267. As leituras podem ser introduzidas com breves pala­vras, aptas a prender a atenção dos ouvintes e a facilitar a compreender o texto. Nunca se substitua a proclamação da Palavra de Deus por qualquer outra leitura.
Quanto ao modo de proclamar as leituras, em textos mais longos, pode-se distribuir entre os diversos leitores, tal como para a proclamação da Paixão do Senhor na Semana Santa°. Tenha-se sempre o cuidado de preparar os leitores para que possam desempenhar digna e convenientemente o seu ministério.
268. Nunca se omita a proclamação do texto bíblico, embo­ra este possa, a seguir, ser recontado, parafraseado ou drama­tizado por um ou mais dos presentes, sob a responsabilidade de quem preside.
269. "Para os domingos e solenidades estão marcadas três Ieituras, ísto é, do Profeta, do Apóstolo e do Evangelho, que levam o povo fiel a compreender a continuidade da obra da salvação, segundo a admirável pedagogia divina. Portanto, é muito desejável que estas três Ieüuras sejam reilmente feitas; contudo, por motivos de ordem pastoral e decisão da Confe­rência Episcopal, pode-se permitir em algumas regiões o uso de apenas duas Ieituras"z'.
De fato, a CNBB, na XI Assembléia Geral em 1970 decidiu que, por motivos pastorais, possam ser feitas duas lei­turas apenas na celebração, mantendo-se sempre o texto do Evangelho. Para a escolha eventual entre as duas primeiras leituras atente-se para o maior fruto dos fiéis. "Jamais se es­colha um texto unicamente por ser mais breve ou mais fácil". 270. A proclamação do Evangelho deve aparecer como ponto alio da Liturgia da Palavra. A tradição romana sempre valorizou com ritos expressivos tanto o Livro dos Evangelhos
quanto a sua proclamação: Procissão do livro e canto de acla­mação, persignação, incensação, leitura ou canto solene, beijo do livro, aclamações antes e depois da leituras.
271. Convém que nas nossas comunidades, conforme as circunstáncias específicas, encontremos, dentro da variedade de gestos possíveis, ritos que permitirão valorizar e realçar o próprio Livro dos Evangelhos e a sua proclamação solene. Por isso, evitar-se-á usar simples folhetos para a proclamação das leituras da Palavra de Deus.
272. Não faltarão, onde for possível, antes da proclamação do Evangelho um verdadeiro canto de aclamação e "após o Evangelho, a aclamação do povo segundo o costume da re­gião"', oportunamente cantada e acompanhada de gestos, cantos, vivas clc.
272. Poder-se-ia em certos lugares valorizar por uma pro­cissão a busca ou entrada do Livro dos Evangelhos, a não ser que se tenha feito no início da liturgia da Palavra ou no rito da Entrada.
Salmo responsorial
274. Entre as leituras cante-se um salmo que favoreça .a meditação da palavra escut<da, sobretudo quando é brevemen­te salientada esta sua função. Este salmo responsorial, Pala­vra de Deus, é parte integrante da Liturgia da Palavra e seu texto acha-se diretamente ligado à respectiva leituras. Onde não for oportuno proferir o salmo do dia, sobretudo se canta­
do, pode-se recorrer a outro salmo adequado. Podem-se can­tar refrões de caráter popular apropriados em lugar do refrão do salmo. Dar-se-á sempre preferência à escolha de um sal­mo em lugar de outro canto de meditação, pois importa supe­rar aos poucos o costume de se cantar aqui outro canto reli­gioso que não seja salmo. A Missa é para os cristãos leigos quase o único lugar onde podem descobrir a riqueza inesgotá­vel dos salmos.
ílomilia 275. Diferente do sermão ou de outras formas de pregação, a homilia (que significa conversa familiar) é parte integrante da Liturgia da Palavra e, como tal, fica reservada ao sacerdo­te ou ao diáconos. É de desejar que haja homilia também nas celebrações em dia de semana.
276. É função da homilia atualizar a Palavra de Deus, fa­zendo a ligação da Palavra escutada nas leituras com a vida e a celebração. É importante que se procure mostrar a realiza­ção da Palavra de Deus na própria celebração da Ceia do Senhor. A homilia procura despertar as atitudes de ação de graças, de sacrifício, de conversão e de compromisso, que encontram sua densidade sacramental máxima na Liturgia eucarística.
277. Os fiéis, congregados para formar uma Igreja pascal, a celebrar a festa do Senhor presente no meio deles, esperam muito dessa pregação e dela poderão tirar fruto abundante. Contanto que ela seja simples, clara, direta e adaptada, pro­
fundamente aderente ao ensinamento evangélico e fiel ao magistério da Igreja'. Para isso é necessário que a homilia seja bem preparada, relativamente curta e procure prender a atenção dos fiéis.
278. Onde for possível, convém que a homilia seja prepara­da em equipe com a participação de alguns cristãos leigos para que se possa levar em conta não só "o mistério celebrado como as necessidades particulares dos ouvintes".
279. Onde for oportuno, convém que a homilia procure despertar a participação ativa da assembléia, por meio do diá­logo, aclamações, gestos, refrões apropriados. Ainda, segundo as circunstâncias, o sacerdote poderá convidar os fiéis a dar depoimentos, contar fatos de vida, expressar suas reflexões, sugerir aplicações concretas da Palavra de Dcus. E finalmen­te, fazer algumas perguntas sobre o que falaram as leituras, como elas iluminam a nossa vida; e até que ponto a celebra­ção da Eucaristia a realiza29.
280. Conforme o caso a dramatização da Palavra, discreta e permitida pela Liturgia, poderá ser excelente complement<1­ção da homilia, sobretudo nas comunidades menores e mais simples.
0 Símbolo ou Profissão de fé
281. "O Símbolo ou Profissão de fé, na Missa, tem por objetivo levar o povo a dar o seu assentimento e resposta à
Palavra de Deus ouvida nas leituras e na homilia, bem como recordar-lhe a regra da fé antes de iniciar a celebração da Eucaristia"3o.
282. Além do Símbolo niceno-constantinopolitano, que de­veria ser usados mais freqüentemente, e muito údl para as ce­lebrações com o povo o Símbolo dos apóstolos na sua forma direta ou, em casos especiais, na forma dialogada, como ocor­re no rito do Batismo, no dia da Crisma e na Vigília Pascal. Eventualmente refrões cantados e adequados podem integrar sua recitação. É um abuso substituir o Creio por formulações que não expressam a fé como é professada nos símbolos mencionados.
Oração universal ou dos fiéis
283. A Oração dos fiéis ou Oração universal, de modo ge­ral, tornou-se nas comunidades um momento bom, variado e de bastante panicipação, "onde o povo, exercendo a sua fun­ção sacerdotal, reza por toda a humanidade"31
284. Na formulação das intenções, sem negligenciar a aber­tura para os grándes problemas e acontecimentos da Igreja universal, dar-se-á espaço para as necessidades mais sentidas pela comunidade; convém estimular a formulação de preces diretamente pelo povo, especialmente, em grupos menores. Dar-se-á oportunidade, por exemplo, na última intenção a que todos possam colocar suas intenções, rezando ao mesmo tcm­po em silêncio. É bom que se eduquem os fiéis sobre o senti­do comunitário da oração, evitando-se intenções de caráter
meramente pessoal ou em número tão elevado que prejudique o ritmo da celebração.
285. É conveniente uma maior criatividade para as respos­tas, que serão, oportunamente, cantadas.
Ao sacerdote cabe introduzir e concluir a Oração dos fiéis3z.
3. Liturgia Eucarística: Celebrar a Ceia pascal.
286. Celebrando o memorial do Senhor, a Igreja, na Litur­gia eucarística, faz o mesmo que Cristo fez na última Ceia. ÚLTIMA CEIA LITURGIA EUCARÍSTICA
Ele tomou o pão... o cálice = Preparação das oferendas deu graças = Oração eucarística
partiu o pão = Fração do pão e deu = Comunhão 287. De fato:
1) Tomou o pão, o cálice. Na preparação cias oferendas levam-se à mesa do altar o pão, o vinho e a água, isto é, aqueles elementos que Cristo tomou ém suas mãos;
2) Deu graças. Na Oração eucarística rendem-se gra­ças a Deus por toda a obra salvífica e as oferendas tornam­se Corpo e Sangue de Cristo;
3) Partiu o pão. Pela fração do mesmo pão manifesta­se a Unidade dos fiéis.
4) Deu: Pela comunhão os fiéis recebem o Corpo e o Sangue do Senhor como os apóstolos o receberam das mãos do próprio Cristo33.
288. Cuidar-se-á, na catequese e na pregação para que os fiéis possam facilmente reconhecer esta estrutura fundamental da Liturgia eucarística.
3.1. Preparação das Oferendas: Ele tomou o pão, ele tomou o cálice.
289. "No início da Liturgia eucarística são levadas ao altar as oferendas, que se converterão no Corpo e Sangue de Cris­to"'
290. No conjunto da celebração, após a Liturgia da Pala­vra e antes de iniciar-se a Oração eucarística, a preparação das oferendas representa um momento de pausa, de descanso para a assembléia, um momento visual. Por isso, convém tomar o tempo necessário de maneira que a Oração eucarística, a se­guir, tenha um destaque melhor, como retomada do diálogo. 291. Prepara-se a mesa condignamente e trazem-se as ofe­rendas. Neste momento, o sacerdote pode assentar-se. É con­veniente que membros da própria assembléia participem da preparação desta mesa e levem em procissão as oferendas do pão e do vinho para o sacrifício eucarístico. "Embora os fiéis já não tragam de casa, como outrora, o pão e o vinho desti­
nados à Liturgia, o ritual de levá-tos ao altar conserva a mes­ma força e significado espiritual"35.
292. "Também são recebidos o dinheiro ou outros donati­vos oferecidos pelos fiéis para os pobres ou para a igreja ou recolhidos no recinto da mesma; serão, no entanto, colocados em lugar conveniente, fora da mesa eucarística"36. Onde for possível, pode ser mais expressivo que todos possam aproxi­mar-se para depositàr a sua oferta em lugar adequado. As ofertas da assembléia fazem parte da ação litúrgica. Por isso não devem ser abolidas.
293. Em certas ocasiões a procissão tornar-se-á mais ex­pressiva se levar também para junto do altar ofertas simbóli­cas alusivas à comemoração realizada naquele dia ou a algum aspecto da vida da comunidade. Os cristãos, outrora, para expressar a sua participação no sacrifício eucarístico, eram muito sensíveis à oferta do pão, do vinho e de dádivas para os pobres. Hoje, uma nova sensibilidade simbólica nos faz atentos ao fato de que o pão e o vinho, que o Senhor usou na Ceia, são frutos da terra e do trabalho de homens e mulhe­res3'. Portanto, outros frutos e instrumentos do mesmo iraba­lho podem ser aqui apresentados.
294. O ofertório verdadeiro realiza-se na Oração eucarísti­ca, após a Narrativa da Instituição ou Consagração, no mo­mento da oblação do Corpo e Sangue de Cristo. "Por ela a Igreja, em particular, a assembléia reunida oferece ao Pai, no Espírito Santo, a hóstia imaculada; ela deseja, porém, que os fiéis não apenas ofereçam a hóstia imaculada, mas aprendam a oferecer a si próprios, e se aperfeiçoem, cada vez mais, pela
mediação de Cristo, na união com Deus e com o próximo, para que finalmente Deus seja tudo em todos"38.
295. A oferta apresentada na hora da apresentação das ofe­rendas é, ao nível do simbólico, uma antecipação daquela oblação e deve significar as pessoas entregando-se a Deus através de suas ofertas "em" Cristo. Oferecer os frutos da ter­ra e do trabalho, que de Deus recebemos, é um gesto de amor, uma maneira de reconhecer que ele é nosso Pai39.
296. O canto do ofertório, se houver, acompanha a procis­são das oferendas e se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido colocados sobre o alta°. O canto não deve ne­cessariamente falar de ofertas, mas pode recordar a vida do povo de modo condizente com o ato litúrgico ou simplesmen­te harmonizar-se com a celebração do mistério do dia de acordo com a tradição.
297. O ofertório pode ser momento propício para valorizar gestos da assembléia. Onde expressões corporais forem bem aceitas poderão ser admitidas na procissão das ofertas.
3.2. A Oração eucarística: Ele deu graças
298. Uma iniciação à Eucaristia ajudará a perceber que a Oração eucarística forma um todo, que comporta diversos elementos:
Estrutura da prece eucarística Diálogo inicial
Prefácio - SANTO
Epiclese (invocação do Espírito Santo) Narrativa da Instituição - Consagração Anamnese (memorial) e Oblação Epiclese de comunhão
Intercessões Doxologia final AMÉM
299. Portanto esta venerável oração contém:
a) O Prefácio (no sentido aqui de proclamação públi­ca) expressa a ação de graças, o louvor a Deus por toda a obra da salvação ou por um de seus aspectos, e termina com b) a aclamação do Santo. c) Segue ent<o a Epiclese ou invo­cação do Espírito Santo sobre os dons, d) a narração da instituição ou consagração, que Cristo encerrou, dizendo: Fa­zei isto em memória de mim; e) por isso, segue a anamnese ou oração da memória de Cristo que leva à  oblação pela qual a Igreja reunida, realizando essa memória, oferece ao Pai
, no Espírito Santo, a "hóstia imaculada" e se oferece a si mes­ma a Cristo; g) epiclese de comunhão, pois o Espírito é quem congrega na unidade da Igreja, Corpo místico de Cristo; h) vêm então as intercessões pelas quais se expressa que a Euca­ristia é celebrada em comunhão com toda a Igreja, tanto ce­leste como terrestre e por todos os membros vivos e faleci­dos; i) A doxologia final (glorificação de Deus) será cantada
ou pronunciada só pelo presidente e confirmada e concluída pelo "pMÉM" do povo4u
300. Sendo memorial de Cristo, a Eucaristia não consiste apenas em renovar os gestos da Ceia, mas também em reno­var os gestos de Cristo na páscoa de sua vida, morte e ressur­reição: louvor ao Pai a partir das circunstâncias de nossa Igre­ja caminhante, oferecer o sacramento memorial do sacrifício de Cristo, mas ao mesmo tempo oferecer-nos a nós mesmos na nossa páscoa, páscoa de Cristo na páscoa da gente, pás­coa da gente na páscoa de Cristo.
301. Antes de iniciar o Prefácio, lembrando o que foi anunciado na Palavra, o presidente da celebração pode cha­mar a atenção de todos para o acontecimento central da Mis­sa, que torna presente o sacrifício de Cristo na Ceia eucarísti­ca'2 e a participação dos fiéis na mesma.
Este também pode ser um dos momentos oportunos para recordar os motivos de ação de graças da comunidade e uni-tos à grande ação de graças da Igreja, a Eucaristia°3.
302. Dentre o leque de Prefácios e Orações eucarísticas, constantes do Missal, é importante que sejam escolhidos os que mais se adaptem à celebração do dia à comunidade.
303. A Oração eucarística é "centro e cume de toda a celebração"'. Não basta, porém, afirmá-1o; é preciso qu.e, de fato, no conjunto da Missa se reze de tal modo esta Oração que ela apareça como momento alto do Santo Sacrifício. Além da escolha da Prece mais apropriada, é importante o modo de
o presidente proferir a Oração, procurando a maior comunica­ção possível e a participação da assembléia através das acla­mações. Sendo celebração, procurar-se-à valorizar todos os elememtos simbólicos que, pela sua natureza, podem contri­buir para realçar este momento da celebração: o canto, os gestos, a voz e as atitudes do sacerdote, dos ministros e da assembléia e, se oportuno, o uso tradicional de campainhas, sinos, incenso etc.
304. Como já notamos, é particularmente importante valori­zar o canto, tanto por parte do sacerdote (Prefácio, Narração da Instituição, Anamnese, Doxologia final), quanto nas partes da assembléia: Santo, Aclamações diversas, segundo as Ora­ções eucarísticas, aclamação do Amém final.
305. Considerando que as aclamações constituem uma for­ma de participação ativa da comunidade na grande Oração eucarística de quem preside, convém valorizar tais aclamações conforme a índole do povo. Para intensificar essa participa­ção ativa do povo, as aclamações sejam de, preferência, can­tadas e oportunamente acompanhadas de gestos.
306. Convém que se valorize da melhor maneira possível, em particular o Amém conclusivo da Oração eucarística, por exemplo, enfatizando-o através do canto, da repetição ou de outro modo.
3.3 Os ritos da Comunhão: Ele partiu o pâo e o deu; tomai, comei; tomai, bebei.
Introdução ao · PAI NOSSO
Livrai-nos... (embolismo) Vosso é o Reino (doxologia) Oração pela Paz
Que a paz do Senhor... Gesto de paz
· FRAÇÃO DO PÃO
+ canto: Cordeiro de Deus:
· CONVITE À COMIINHÃO: Felizes Apresentação: Eis o cordeiro "Senhor, eu não sou digno..."Comunhão (+ canto) interiorização
· ORAÇÃO após a Comunhão AMÉM
308. "Terminada a Oração eucaristica, seguem-se sempre o Pai-nosso, a Fração do Pão e o convite para a Comunhão, pois estes elementos são de grande importância na estrutura desta parte da Missa"4s
309. Sendo a Celebração eucarística a Ceia pascal, convém que, segundo a ordem do Senhor, o seu Corpo e Sangue se­jam recebidos como alimento espiritual pelos fiéis, devida­mente preparados. Esta é a finalidade da Fração do Pão e dos outros ritos preparatórios, pelos quais os fiéis são imediata­mente encaminhados à Comunhão"°.
310. O Pai-nosso, sobretudo quando cantado, é especialmen­te apto para estimular o sentimento de fraterna solidariedade cristã. Este sentimento pode, além disso, ser expresso por ges­tos, desde que se harmonizem com os gostos e costumes do povo. Por ser a Oração que o Senhor nos ensinou, não deve ser nunca substituída por outros cantos, parafraseando o Pai­nosso, que poderão, no entanto, ser aproveitados em outros momentos.
311. 0 rito da paz. "Neste rito, os fiéis imploram a paz e a unidade para a Igreja e toda a família humana e exprimem mutuamente a caridade antes de participar do mesmo pão"4'. 312. Espontaneamente as nossas comunidades acolheram e perceberam o rito da saudação da paz como momento de con­fraternização alegre em Cristo. É momento privilegiado para realçar o compromisso da comunicação da paz a todos indis­tintamente. Paz recebida como dom.
313. Seria conveniente não realizar o rito da paz sempre da mesma maneira, mas, pelo contrário, usar da criatividade e variar. Por exemplo, a saudação poderá ser simplificada ou omitida por completo nos tempos penitenciais; ela será realça­da, pelo contrário, em tempos de festa.
Ocasionalmente, o gesto facultativo da saudação pode­rá ser realizado em outro momento da celebração: por exem­plo nos ritos de entrada da Missa, como saudação fraterna; no ato penitenciai em sinal de reconciliação; após a homilia ou antes da apresentação das oferendas, também como, perdão das ofensas ou, se deixado para o fim da Missa, como gesto de despedida ou cumprimento (pêsames, parabéns ele.).
314. "Eles o reconheceram na fração do pão". "O gesto de partir o pão, realizado por Cristo na última Ceia, deu nome a Ação eucarística na época apostólica; este rito possui não apenas uma razão prática, mas significa que nós, sendo muitos, pela comunhão do único Pão da Vida, que é o Cris­to, formamos um único corpo"°.
315. Para de novo realçar o gesto de partir o pão e o seu significado é conveniente que a "matcria da Celebração euca­rística pareça realmente um alimento... e que o sacerdote pos­sa, de fato, partir a hóstia em diversas partes e ditribuí-1a ao menos a alguns fiéis"49. Na estrutura da Ceia, é aqui o lugar próprio da fração como gesto ritual de fazer o que Cristo fez e não durante a Narrativa da Instituição (Consagração).
316. Durante a fração, o povo canta ou diz o "Cordeiro de Deus", entoado pela assembléia. A saudação da paz não deve ofuscar a importância deste momento do rito.
317. É conveniente igualmente "usar uma única patena de maior dimensão, onde se coloque tanto o pão para o sacerdo­te como para os ministros e fiéis"°.
318. "A Comunhão realiza mais plenamente o seu aspecto de sinal quando sob as duas espécies. Sob esta forma mani­festa-se mais perfeitamente o sinal do banquete eucarístico e se exprime de modo mais claro a vontade divina de realizar a nova e eterna Aliança no Sangue do Senhor, assim como a relação entre o banquete eucarístico e o banquete escatológi­co no reino do Pai"51.
319. Por isso, dever-se-ia fazer esforço necessário para que "os fiéis recebam o Corpo de Cristo em hóstias consagradas na mesma Missa enquanto possível, e participem do cálice pelo menos nos casos previstos"52. Seria recomendável que participassem do cálice os "ministros que desempenham uma função na Missa"53; para os casos previstos confira-se a Ins­wção Geral sobre o Missal Romano, n.242, de 1 a 14, aos quais se acrescenta por lei universal da Missa da Vigília pas­ca154. É também pérmitido que os Ordinários possam estabcle­cer casos particulares55.
320. A distribuição da Comunhão sob duas espécies exige cuidados especiais, conforme as circunstâncias locais. As ins­wções litúrgicas insistem que apareça claramente, através da pessoa de um ministro que preside a distribuição, o sinal de Cristo que na Ceia "ciá" a seus discípulos, em comunhão, o seu Corpo entregue, o seu Sangue derramado5ó. Por isso, a comunhão deve ser sempre recebida da mão do ministro. Os
pastores tenham o cuidado de orientar os fiéis sobre a Comunhão na mão.
321. O sacerdote é o ministro ordinário não só da consa­gração, mas também, juntamente com o diácono, da distribui­ção da Comunhão.
322. "Enquanto o sacerdote e os fiéis recebem o Sacramen­to, entoa-se o Canto da Comunhão, que exprime, pela unida­de das vozes, a união espiritual dos comungantes, demonstra a alegria dos corações e tojna mais fraterna a procissão dos que vão receber o Corpo de Cristo. O canto começa quando o sacerdote comunga, prolongando-se oportunamente, enquan­to os fiéis recebem o Corpo de Cristos'. Durante a Comunhão há lugar também para um fundo de música instrumental, con­cluído o canto.
323. Interiorização após a Comunhão. "Terminada a distri­buição da Comunhão, se for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio, podendo a assembléia entoar ainda um hino ou outro canto de louvor"58.
324. É particularmente útil deixar espaço após a distribui­ção da Comunhão para um momento de interiorização. Segun­do as circunstâncias, será orientado por quem preside ou ou­w ministro.
325. Este poderá ser nas comunidades outro momento de grande flexibilidade, usado como criatividade: silêncio, medi­tação, oração, canto, visando um aprofundamento do mistério celebrado etc. Em geral, as Antífonas da Comunhão do Mis­sal, recebidas da tradição, retomam uma frase central do
Evangelho ou do mistério do dia. Elas nos fornecem assim uma indicação precisa quanto à maneira de como pode ser apresentada e aprofundada a Comunhão eucarística à luz da Palavra de Deus.
326. A Oraçiw presidencial após a Comunhão, na qual se "imploram os frutos do mistério celebrado", aparecerá facil­mente como conclusão deste momento de interiorização. "O sacerdote... recita a Oração depois da Comunhão, que pode ser precedida de um momento de silêncio, a não ser que já se tenha guardado silêncio após a Comunhão"59. A Oração depois da Comunhão constitui propriamente a conclusão do rito da Comunhão e de toda a Missa. Por meio dela estabele­ce-se a relação entre a Celebração eucarística e a vida euca­rística do cristão.
4. Ritos finais da Missa: A despedida
327. "Terminada a Oração depois da Comunhão, podem ser feitas, se necessfirio, breves comunicações ao povo"°.
Os avisos que dizem respeito à vida da comunidade serão dados, de preferência, pelas próprias pessoas que eswo ligadas a tais iniciativas, sob a responsabilidade de quem pre­side. Não se omitirão comunicações sobre atividades de ou­tras comunidades é da Igreja universal.
328. Este parece ser também o momento mais adequado para as breves homenagens, que as comunidades gostam de prestar em dias especiais antes de se disgersarem.
329. Eventualmente, antes de encerrar-se a celebração, será útil uma mensagem final, na qual se exorte a comunidade a testemunhar pela vida a realidade celebradaól.
330. Um canto final, se parecer oportuno, embora não pre­visto no Missal, encontrará maior receptividade neste momen­to do que mais tarde.
331. Nos tempos litúrgicos mais ricos ou em certos mo­mentos especiais da vida das comunidades, a bênção final será enriquecida pelas bênçãos solenes à escolha ou orações sobre o povo. Nada impede que no caso de aconteoimentos espe­ciais celebrados na Missa da comunidade, tais como bodas e jubileus, bem como outras círcunstâncias semelhantes, a bên­ção final inclua uma bênção especial para o casal ou pessoas determinadas. . 332. De qualquer modo, haja no fim da Missa, na medida do possível, uma verdadeira despedida humana e fraterna.
OBSERVAÇÃO FINAL
333. As presentes orientações visam oferecer às Igrejas lo­cais e suas comunidades pistas que favoreçam a participação do povo na Missa, incentivada e proposta pelo Vaticano II. 334. Os frutos pastorais que delas se esperam dependem do cuidado com que estas orientações forem introduzidas. Faz-se necessária uma adequada preparação das Comunidades e de seus ministros, observando-se diligentemente o discernimento pastoral quanto à sua oportunidade e convenicncia de acordo com a realidade local.

335. Evitar-se-ão os abusos, sempre possíveis, na medida em que formarmos os agentes de pastoral para uma sadia criatividade, fomentando positivamente a Liturgia em todas as suas expressões e favorecendo a sua linguagem própria no universo da fé.